Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Com todo respeito que as maneiras do ministro Joaquim
Barbosa não fazem por merecer, o presidente do Supremo Tribunal Federal
está confundindo assertividade com grosseria. Para usar um lugar comum:
autoridade com autoritarismo.
Acerta quando lança à luz mazelas do Judiciário: lobby junto a
políticos para obter promoções, conluios entre advogados e juízes,
patrocínios indevidos a viagens e encontros de magistrados, excessos em
gastos, corporativismo, exorbitâncias sabidas e presumidas que a
ministra Eliana Calmon quando corregedora do Conselho Nacional de
Justiça já começara a denunciar publicamente com a rubrica "bandidos de
toga".
O presidente do STF, contudo, comete incorreção tática ao se portar
como palmatória do mundo em repetidas demonstrações de que acredita no
seguinte preceito: se diz o certo, tem a liberdade de fazê-lo como bem
entende, até na forma de afronta à urbanidade.
Seus desvarios de temperamento produziram momentos desconfortáveis
durante o julgamento do mensalão e prestaram-se ao uso do sofisma
segundo o qual o STF se conduziu como um tribunal de exceção referido na
sanha do clamor popular, ao arrepio da Constituição e da
jurisprudência.
Agora as patrulhas da manipulação voltam a se assanhar por causa de
uma reunião entre o presidente do STF e representantes de associações de
magistrados acerca da aprovação de emenda constitucional criando quatro
novos tribunais regionais federais.
São necessários? Há controvérsias e argumentos consistentes de ambos
os lados, mas o debate de conteúdo acabou se perdendo e a atenção
desviada para os termos com que Joaquim Barbosa levou a discussão.
O ministro abriu a reunião à imprensa e até aí tudo certo. Não fosse a
impressão de que o fez movido pelo afã de alimentar a imagem de santo
guerreiro que a todos enfrenta com destemor.
Não precisava praticamente mandar os interlocutores calarem a boca
nem constrangê-los com sua posição hierárquica e pretendida
superioridade moral. Deu margem a que reagissem como vítimas agremiações
que de coitadinhas não têm nada. Bastava argumentar.
Inclusive porque há fatos de sobra a corroborar a justeza dos
combates a que se propõe Barbosa. A suntuosidade exorbitante dos
edifícios de certos tribunais é o mais evidente e comezinho deles.
Outro: a via-sacra de juízes aos gabinetes de políticos em busca de
influência para conseguir promoções. Pergunte-se a ministros, senadores,
deputados ou governadores como se dá essa prática e as respostas
sustentarão a crítica que Joaquim Barbosa faz ao recurso da politicagem
no meio judicial.
Há uma caixa preta no Judiciário? Não resta dúvida. É necessário
alguém de coragem, legitimidade funcional e identificação social para
tocar nas feridas? Certamente. Barbosa reúne esses atributos? Em tese,
sim.
Mas, na prática, talvez. A rudeza do grito além de má conselheira é companhia das mais traiçoeiras.
Monitor. Enquanto ajuda na coleta de assinaturas para a criação do
partido de Marina Silva, o PSDB esquadrinha a votação da ex-senadora na
eleição de 2010 para entender como se distribuíram seus 20 milhões de
eleitores.
No quesito voto evangélico, a análise revelou que a opção pautada
pela religião limitou-se a 4%. De onde os tucanos concluem que se Marina
disputar a Presidência em 2014, não terá votação significativa naquela
seara.
Já no governo, há a seguinte percepção: Marina consegue criar o
partido, concorre à Presidência e vai tentar conquistar votos com o
discurso da "antipolítica" tendo na internet sua principal ferramenta.
"É o único caminho" avalia um ministro do PT, prevendo dificuldades
para a ex-senadora em formar alianças partidárias e obter sustentação
financeira para a campanha.
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