sexta-feira, 1 de abril de 2016


UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – DTCS – CAMPUS III
COLEGIADO DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTÁRIO I
DOCENTE: LUIZ ANTONIO COSTA DE SANTANA
ALUNO_____________________________________________________________

Observações: A prova deverá ser entrega no horário da aula do dia 02/04/2016, manuscrita e legível.


1a avaliação de Direito Tributário I


1a Questão

Dino Buzzati, a nosso sentir, melhor demonstra a desgraça que é a prevalência da forma sobre a substância: O autor italiano nos conta, em seu precioso e clássico “O Deserto dos Tártaros”, que fora avistado um cavalo a uma certa distância do forte. O soldado Giuseppe Lazzari pensou se tratar de Fiocco, seu cavalo. Malgrado não ter sido autorizado a ir buscar o cavalo, sorrateiramente se dirigiu às muralhas para capturar o animal.
Percebeu que o cavalo não era o seu. Mesmo assim, resolveu voltar ao forte com o quadrúpede (livre tradução):
“A sentinela endireitou-se, olhou de novo à sua frente, viu que as duas sombras não eram sonho, já se encontravam próximas, a uns setenta metros: exatamente um soldado e um cavalo. Então sobraçou o fuzil, preparou o cão para o disparo, enrijeceu-se no gesto repetido centenas de vezes  durante a instrução. Depois gritou: - Quem vem lá, quem vem lá?
Lazzari era soldado novo, não pensava nem de longe que sem a palavra de ordem seria impossível entrar. No máximo, temia uma punição por ter-se afastado sem permissão; mas, quem sabe, talvez o coronel o perdoaria por causa do cavalo recuperado; (...)
- Quem vem lá, quem vem lá? – uma vez mais e depois deveria disparar. (...)
- Sou eu, Lazzari! – gritou. – Mande o chefe do posto de guarda abrir! Peguei o cavalo! E não faça estardalhaço senão me metem atrás das grades!
A sentinela não se mexeu. Com o fuzil preparado, permanecia parada, tentando retardar ao máximo o terceiro ‘quem vem lá’. (...)
- Quem vem lá, quem vem lá? – gritou pela terceira vez a sentinela e na voz estava subentendida como que uma advertência pessoal e anti-regulamentar. Queria dizer: volte atrás enquanto é tempo, quer morrer?
E finalmente Lazzari entendeu, lembrou num lampejo as duras leis do forte, sentiu-se perdido.
Mas em vez de fugir, sabe-se lá por que, largou as rédeas do cavalo e adiantou-se sozinho, invocando com voz aguda:
- Sou eu, Lazzari! Não está vendo? Moretto, ô Moretto! Sou eu! Mas o que está fazendo com o fuzil? Ficou Louco, Moretto?
Mas a sentinela não era mais Moretto, era simplesmente um soldado com as feições endurecidas que agora erguia lentamente o fuzil, fazendo pontaria contra o amigo. Apoiou a espingarda no ombro e olhou de soslaio para o sargento-mor, invocando silenciosamente um sinal para suspender. (...)
- Sou eu, Lazzari! – gritava. – Não está vendo que sou eu? Não atire, Moretto!
Mas a sentinela não era mais Moretto com quem todos os colegas brincavam à vontade, era apenas uma sentinela do forte, em uniforme de pano azul-escuro com a bandeirola de couro curtido, absolutamente idêntica a todas as demais à noite, uma sentinela qualquer que fez pontaria e agora apertava o gatilho. (...)
Agora que o dever fora cumprido, a sentinela pôs o fuzil no chão, debruçou-se no pára-peito, olhou para baixo, esperando não ter acertado. E no escuro parecia-lhe de fato que Lazzari não havia caído.
Não, Lazzari estava ainda de pé, e o cavalo se aproximara dele. Depois, no silêncio deixado pelo tiro, ouviu-se sua voz, num tom desesperado:
- Ô Moretto, você me matou!
Dito isso, Lazzari desabou lentamente para a frente. (...)[1]” (destaquei).

Pergunta: Com base no texto e as discussões efetuada em aula, estabeleça um paralelo entre razoabilidade e proporcionalidade. (3,0 pontos).

2a Questão

“O pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara
O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela
A Baía de Guanabara
O antropólogo Claude Levy-Strauss detestou a Baía de Guanabara:
Pareceu-lhe uma boca banguela.
E eu menos a conhecera mais a amara?
Sou cego de tanto vê-la, de tanto tê-la estrela
O que é uma coisa bela?
O amor é cego
Ray Charles é cego
Stevie Wonder é cego
E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem
Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?
Uma arara?
Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara
Em que se passara passa passará o raro pesadelo
Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro
(...)” (destaquei).
O estrangeiro, Caetano Veloso.

Pergunta: Com base no trecho da canção e as discussões travadas em aula, estabeleça a distinção entre texto e norma e eventual paradoxo existente na possibilidade de várias respostas corretas no Direito. (3,0 pontos).


3a Questão
Aureliano Buendia[2], prefeito de Macondo[3], assumiu a gestão municipal encontrando um quadro de dívidas para com diversos credores. Com o credor A encontrou um débito empenhado e liquidado, mas sem o instrumento de contrato. Com o credor B, a dívida estava empenhada e liquidada, mas não foi encontrado o objeto da compra (um computador).

Você, nomeado Procurador Geral de Macondo, emita parecer jurídico solucionando o caso. (4,0 pontos).






[1] BUZZATI, Dino. IL DESERTO DEI TARTARI. Copyright 1945 Arnoldo Mondadori Editore S.p.A., Milano, Capítulo XII, 101-104. No original:
“La sentinella si riscosse, guardò ancora dinanzi a sé vide che le due ombre  non erano un sogno,  si trovavano oramai vicine,  saranno stati appena settanta metri: esattamente un soldato  e  un  cavallo.  Allora imbracciò il fucile, preparò il cane allo sparo, si irrigidì nel gesto ripetuto centinaia di volte all'istruzione. Poi gridò: ‘Chi va là, chi va là?’.
Il Lazzari era soldato da poco tempo, non pensava neppure lontanamente che senza la parola d'ordine non sarebbe potuto rientrare. Tutt'al più temeva  una  punizione  per  essersi  allontanato  senza permesso;  ma chissà,  forse il colonnello l'avrebbe perdonato per via  del  cavallo recuperato; (...)
‘Chi va là, chi va là?" ripeté la sentinella. Ancora una volta e poi avrebbe dovuto sparare.
‘Sono io, Lazzari!’ gridò. ‘Manda il capoposto ad aprirmi! ho preso il cavallo! E non farti accorgere se no mi ficcano dentro!’
La sentinella non  si  mosse.  Con il fucile imbracciato se ne stava ferma, cercando di ritardare al possibile il terzo ‘chivalà’. (...)
‘Chi va là, chi va là?" gridò la terza volta la  sentinella  e  nella voce    c'era    sottinteso    come    un   avvertimento   privato   e antiregolamentare. Voleva dire: ‘Torna indietro fino  a  che  sei  in tempo; vuoi farti ammazzare?’
E  finalmente  il  Lazzari capì,  si ricordò in un lampo le dure leggi della Fortezza, si sentì perduto.
Ma invece di fuggire, chissà perché, lasciò le briglie del cavallo e si fece avanti da solo,  invocando con     voce acuta:
‘Sono io,  Lazzari!  Non mi vedi?  Moretto, o Moretto! Sono io! Ma che cosa fai con il fucile? Sei matto, Moretto?’
Ma la sentinella non era più Moretto, era semplicemente un soldato con la faccia dura che adesso alzava lentamente il fucile,  mirando contro l'amico.  Aveva  appoggiato  lo  schioppo  alla  spalla  e con la coda     dell'occhio sbirciò il sergente maggiore, invocando silenziosamente un cenno di lasciar stare. (...)
‘Sono io,  Lazzari!’ gridava. ‘Non vedi che sono io? Non sparare, Moretto!’
Ma la sentinella non era più il  Moretto  con  cui  tutti  i  camerati scherzavano  liberamente,  era soltanto una sentinella della Fortezza, in uniforme di panno azzurro scuro con la  bandoliera  di  mascarizzo,    assolutamente  identica  a tutte le altre nella notte,  una sentinella qualsiasi che aveva mirato ed ora premeva il grilletto. (...)
Ora che il dovere era fatto,  la sentinella mise il fucile a terra, si sporse dal parapetto,  guardò in giù sperando di non avere colpito.  E nel buio gli parve infatti che il Lazzari non fosse caduto.
No,  il  Lazzari  era  ancora in piedi,  e il cavallo gli si era fatto vicino.  Poi,  nel silenzio lasciato dallo sparo,  si udì la sua voce, con che disperato suono:
‘Oh Moretto, mi hai ammazzato!’.
Questo  il  Lazzari disse e si afflosciò lentamente in avanti. (...)”.
[2] Um dos personagens da obra Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques.
[3] Cidade ficticia da obra Cem anos de solidao, de Gabriel Garcia Marques.