terça-feira, 29 de março de 2011

Fernando Pessoa - Esta velha angustia

Esta velha angustia,
Esta angustia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pasadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.
Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...
Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino?
Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu tecto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui?
Está maluco.
Hoje é quem eu sou.
Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer – Júpiter, Jeová, a Humanidade –
Qualquer serviria, Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?
Estala, coração de vidro pintado!

A ciência da felicidade (Superinteressante 212)


A busca da felicidade

Nos últimos anos, cada vez mais pesquisadores têm tentado descobrir o que faz as pessoas felizes. Veja como essas pesquisas podem melhorar sua vida.

Felicidade é um truque. Um truque da natureza concebido ao longo de milhões de anos com uma só finalidade: enganar você. A lógica é a seguinte: quando fazemos algo que aumenta nossas chances de sobreviver ou de procriar, nos sentimos muito bem. Tão bem que vamos querer repetir a experiência muitas e muitas vezes. E essa nossa perseguição incessante de coisas que nos deixem felizes acaba aumentando as chances de transmitirmos nossos genes. "As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo", escreveu o escritor e psicólogo americano Robert Wright, num artigo para a revista americana Time.
A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade - é ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar dinheiro, gastar dinheiro, fazer amigos, brigar, casar, separar, ter filhos e depois protegê-los. Ela nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e nos dá disposição para lutar por elas. Mas tudo isso é ilusão. A cada vitória surge uma nova necessidade. Felicidade é uma cenoura pendurada numa vara de pescar amarrada no nosso corpo. Às vezes, com muito esforço, conseguimos dar uma mordidinha. Mas a cenoura continua lá adiante, apetitosa, nos empurrando para a frente. Felicidade é um truque.
E temos levado esse truque muito a sério. Vivemos uma época em que ser feliz é uma obrigação - as pessoas tristes são indesejadas, vistas como fracassadas completas. A doença do momento é a depressão. "A depressão é o mal de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço", afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua. Muitos de nós estão fazendo força demais para demonstrar felicidade aos outros - e sofrendo por dentro por causa disso. Felicidade está virando um peso: uma fonte terrível de ansiedade.
Esse assunto sempre foi desprezado pelos cientistas. Mas, na última década, um número cada vez maior deles, alguns influenciados pelas idéias de religiosos e filósofos, tem se esforçado para decifrar os segredos da felicidade. A idéia é finalmente desmascarar esse truque da natureza. Entender o que nos torna mais ou menos felizes e qual é a forma ideal de lidar com a ansiedade que essa busca infinita causa. Veja nas próximas páginas o que eles já descobriram.

Três caminhos
Um dos motivos pelos quais a felicidade é tão difícil de alcançar é que nem sabemos bem o que ela é (veja algumas tentativas de defini-la no quadro da página 52). Daí a importância das pesquisas do psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia. Seligman concluiu que felicidade é na verdade a soma de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado.
Prazer você sabe o que é. Trata-se daquela sensação que costuma tomar nossos corpos quando dançamos uma música boa, ouvimos uma piada engraçada, conversamos com um bom amigo, fazemos sexo ou comemos chocolate. Um jeito fácil de reconhecer se alguém está tendo prazer é procurar em seu rosto por um sorriso e por olhos brilhantes. Já engajamento é a profundidade de envolvimento entre a pessoa e sua vida. Um sujeito engajado é aquele que está absorvido pelo que faz, que participa ativamente da vida. E, finalmente, significado é a sensação de que nossa vida faz parte de algo maior.
A vantagem de dividir a felicidade em três é que assim fica mais fácil definirmos nossos objetivos. "Buscar a felicidade" é uma meta meio vaga, fica difícil até de saber por onde começar. Mas, se você se conscientizar de que basta juntar essas três coisas - prazer, engajamento e significado - para a felicidade vir de brinde, a tarefa torna-se menos penosa. Seligman acha que um dos maiores erros das sociedades ocidentais contemporâneas é concentrar a busca da felicidade em apenas um dos três pilares, esquecendo os outros. E geralmente escolhemos justo o mais fraquinho deles: o prazer. "Engajamento e significado são muito mais importantes", disse ele numa entrevista à Time. Como então alcançá-los? (Veja algumas dicas práticas para ser feliz, no quadro à direita.)
Comecemos pelo engajamento. Algumas pessoas são capazes de se engajar em tudo: entram de cabeça nos romances, doam-se ao trabalho, dão tudo de si a todo momento. Isso é raro e nem sempre é bom (inclusive porque gente engajada demais tende a negligenciar outros aspectos da vida, em especial o prazer). Ninguém precisa ir tão longe, mas o esforço de estar atento ao mundo, participando da vida, vale a pena.
Mihaly Csikszentmihalyi (pronuncie "txicsentmirrái"), pesquisador da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, estuda um fenômeno cerebral chamado "fluxo", que ocorre quando o engajamento numa atividade torna-se tão intenso que dá aquela sensação boa de estar completamente absorto, a ponto de esquecer do mundo e perder a noção do tempo. Ou seja, é um estado de alegria quase perfeita. Esse fenômeno acontece com monges em estado de meditação, mas também em situações muito mais comuns, como ao tocar um instrumento, andar de bicicleta ou até mesmo ao consertar a estante da casa. Um outro pesquisador, o americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, observou em laboratório que as pessoas em estado de fluxo ativam uma região do cérebro chamada córtex pré-frontal esquerdo, o que pode ter uma série de efeitos no organismo, inclusive um melhor funcionamento do sistema imunológico. Ao longo de um estudo realizado na Holanda, pessoas que entraram em fluxo tiveram seu risco de morte reduzido em 50%, por reagirem melhor a doenças.
E como se entra no tal fluxo? Csikszentmihalyi afirma que o segredo é buscar atividades nas quais se possa usar todo o seu talento. Tem de ser um desafio não muito fácil a ponto de ser entediante, nem tão difícil que se torne frustrante. Procurar experiências desse tipo é recompensador e traz níveis bem altos de felicidade. Claro que infelizmente nem todo mundo tem a sorte de encontrar desafios assim no trabalho. Nesse caso, um hobby pode ajudar na busca por engajamento e por momentos de fluxo - pode tanto ser uma atividade manual ou intelectual quanto um esporte.
Quanto ao terceiro pilar da felicidade, o significado, o jeito tradicional de conquistá-lo é via religião. Há milênios, a humanidade encontra alento na crença de que cada um de nós faz parte de uma ordem maior. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, na média, mais felizes que as não-religiosas - elas também têm menos depressão, menos ansiedade e suicidam-se menos. A crença de que Deus está nos observando, nas palavras do psicólogo e estudioso da religião Michael McCullough, da Universidade de Miami, é uma espécie de "equivalente em grande escala do pensamento 'se eu não conseguir pagar o aluguel, meu pai vai ajudar'". Ou seja, é um conforto, uma garantia de que, no final, as injustiças serão corrigidas e nossos esforços, reconhecidos.
Mas a religião não é a única forma de dar significado à vida. Um truque eficaz para ficar mais feliz é fazer o bem para os outros - visitar um orfanato, ajudar uma criança a fazer a lição de casa, dar um presente útil. E isso não é conversa mole. Seligman mediu em laboratório os efeitos do altruísmo e percebeu que um único ato de bondade pode melhorar efetivamente os níveis de felicidade de uma pessoa por até dois meses. Cinco atos de bondade por semana turbinaram sensivelmente o astral dos cobaias - e, quando todos os cinco foram realizados num mesmo dia, o benefício foi ainda maior. Também se alcança significado construindo algo que pode sobreviver a você. O exemplo clássico é criar filhos. Uma outra dica é acreditar que sua vida é importante para alguma grande causa: a história, a ciência, a justiça social, a democracia, a liberdade, o progresso, a natureza. Ou seja, é útil crer em algo, mesmo que não seja em Deus.
Para terminar, há uma regra da qual especialista nenhum discorda: ter amigos (e nem precisam ser muitos) ajuda a ser feliz. Amigos contam pontos nos três critérios: trazem, ao mesmo tempo, prazer, engajamento e significado para nossas vidas.

Ser infeliz é preciso
Ok, já temos a receita da felicidade. Basta juntar prazer, engajamento e significado e nossa vida se resolve para sempre? Ah, se fosse assim tão simples. A felicidade, como não cansam de repetir os poetas e os chatos, é breve. Ainda bem. Felicidade, por definição, é um estado no qual não temos vontade de mudar nada. Ou seja, se passássemos tempo demais assim, nossas vidas estacionariam. A busca da felicidade é o que nos empurra para a frente - se agarramos a cenoura, paramos de correr e a brincadeira perde completamente a graça. Portanto, um pouco de ansiedade, de insatisfação, é perfeitamente saudável.
"Felicidade é projetada para evaporar", escreveu Robert Wright. E, segundo ele, há uma razão evolutiva para isso também: "se a alegria que vem após o sexo não acabasse nunca, então os animais copulariam apenas uma vez na vida". Mora aí um dos grandes problemas atuais. Muita gente acredita que é possível viver uma existência só de altos, sem nenhum ponto baixo, sem tristeza, sem sofrimento. E alguns estão dispostos a conseguir isso sem esforço algum, só à custa de antidepressivos.
Isso é conversa de cientista, mas alguns religiosos, em especial os budistas, já afirmam algo parecido há muito tempo. Um de seus preceitos básicos é o de que "a vida é sofrimento". Coisa chata, né? Talvez, mas ter consciência de que o sofrimento é inevitável pode ajudar a trazer felicidade, e certamente diminui a ansiedade. O conselho do dalai-lama é que, quando as coisas estiverem mal, em vez de se entregar à infelicidade ou tentar apenas minimizar os sintomas, você respire fundo e tente descobrir o porquê da situação.
Segundo ele, grande parte da dor é criada por nós mesmos, pela nossa inabilidade de lidar com a tristeza e pela sensação de que somos obrigados a ser sempre felizes. Ao encarar o sofrimento de frente e identificar as suas causas reais, você estará dando um passo na direção do autoconhecimento, o que vai lhe permitir entender quais seus objetivos na vida, quais seus valores. Para usar a terminologia de Seligman, esse autoconhecimento dará a você mais clareza sobre que tipo de atividades lhe traz prazer, engajamento e significado. Ou seja, são esses momentos ruins que criarão condições para você correr atrás da sua própria realização - individual, pessoal e intransferível.

Cada um é cada um
É aí que está o pulo-do-gato. Não existe uma fórmula da felicidade que funcione com todo mundo - é justamente nisso que os livros de auto-ajuda costumam falhar. Cada pessoa é diferente e reage à vida de modo diferente. Foi essa a conclusão do estudo realizado em 1996 pelo pesquisador David Lykken, da Universidade de Minnesota. Ele comparou dados sobre 4 000 pares de gêmeos idênticos e percebeu que, na maioria dos casos, quando um tem tendência a ver o mundo de modo otimista, o outro tem também - e quando um é pessimista o outro é igual. Ou seja, existe um forte componente genético na nossa tendência a ser feliz. Não que isso seja uma grande surpresa. Qualquer pai ou mãe sabe que algumas crianças nascem com vocação para o sorriso, enquanto outras são simplesmente muito mais difíceis de agradar.
Nas últimas décadas, apareceram muitas evidências de que nós tendemos a manter um "nível de felicidade" constante ao longo de nossas vidas - e nem mesmo grandes acontecimentos parecem capazes de alterar bruscamente esse nível. Um exemplo disso é a pesquisa conduzida pelo psicólogo Richard Lucas, da Universidade do Estado de Michigan, Estados Unidos. Lucas passou 15 anos entrevistando solteiros e casados na Alemanha e pedindo que eles dessem notas de 0 a 10 para seu estado de felicidade. Os solteiros tinham média 7,28. No momento em que eles casavam, o valor aumentava muito: para perto de 8,5. Mas dois anos depois a média já era de exatamente 7,28 outra vez. Ou seja, a longo prazo, o casamento parece não mudar - para melhor ou para pior - o nível de felicidade.
O mesmo vale para outros acontecimentos radicalmente transformadores - para o bem ou para o mal. Um estudo com ganhadores da loteria realizado em 1978 mostrou que esses felizardos têm picos de felicidade logo após o prêmio, mas tendem a voltar aos níveis anteriores alguns meses depois. Algo equivalente parece acontecer com pessoas que ficam paraplégicas em acidentes. Elas passam por um período de infelicidade, mas dois meses depois recuperam níveis quase tão altos quanto os anteriores ao acidente.
Esse acúmulo de dados levou alguns especialistas a afirmarem que a felicidade é algo imutável. Oito anos atrás, o pesquisador Lykken criou polêmica ao afirmar publicamente que "parece que tentar se tornar mais feliz é tão fútil quanto tentar se tornar mais alto". Hoje até ele próprio reconhece que essa afirmação foi, no mínimo, exagerada. Parece que uma analogia melhor para a felicidade é compará-la com o peso. Cada um de nós tem um biotipo diferente - uma tendência para ser mais ou menos gordo. Mas é claro que os nossos hábitos e a nossa postura têm uma grande influência sobre o número que aparece na balança. É a mesma coisa com a felicidade: temos uma tendência natural para um certo nível. Mas fazer regime funciona.

Uma questão de desejo
Um exemplo do quanto podemos alterar nossa predisposição genética para a felicidade é a forma como lidamos com nossos desejos. Existem duas maneiras de alcançar a felicidade: possuindo mais ou desejando menos. Se a felicidade é a cenoura, a vara na qual ela está pendurada é o que chamamos de desejo. E estamos fazendo varas cada vez mais compridas.
Veja o caso dos países ricos. "Nos Estados Unidos e na Europa, há uma sensação de desapontamento, pois se está percebendo que existe um limite para a satisfação que a sociedade e os bens materiais trazem", diz o economista e filósofo Eduardo Giannetti, autor do ótimo livro Felicidade. Nos Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial, todos os indicadores econômicos e sociais melhoraram sem parar. A renda triplicou, o tamanho das casas dobrou e o acesso aos bens materiais cresceu tanto, que hoje há mais carros nas garagens do que habitantes no país. Ainda assim, o índice nacional de felicidade não cresceu um milímetro sequer. O Centro de Pesquisas de Opinião Nacional dos Estados Unidos entrevista periodicamente os americanos desde os anos 50 - e o resultado é invariavelmente o mesmo (um terço deles se considera "muito feliz").
Há uma razão para isso: os americanos querem cada vez mais. Seus desejos não páram de crescer. Ou seja, a cenoura está cada vez mais apetitosa, mas também mais distante. Demandas crescentes são a condição essencial para manter a economia funcionando. A lógica do capitalismo é criar necessidades, para então satisfazê-las - não por acaso, esse país de insatisfeitos é o mais rico do mundo. Precisamos das coisas a partir do momento em que elas estão disponíveis e isso vale tanto para produtos quando para idéias. Quando vemos pessoas lindas, maquiadas e malhadas nas capas das revistas, e aparelhos de som inacreditáveis nos anúncios, fica difícil nos satisfazer com nosso visual comum e com o walkman velho mas honesto. Acontece que a felicidade não está diretamente ligada aos bens materiais. Ed Diener, da Universidade de Illinois, estudioso do assunto há 25 anos, avaliou o nível de felicidade das 400 pessoas mais ricas do mundo segundo a revista Forbes, e concluiu que elas estão rigorosamente empatadas com os pastores maasai da África.
Para complicar, temos cada vez mais opções. Na época em que a prateleira da farmácia abrigava apenas xampu para cabelos secos, normais ou oleosos, era fácil escolher um e ir para casa tranqüilo. Mas, quando na sua frente se enfileiram xampus de todas as procedências e preços, para cabelos ondulados, escuros, danificados, mistos, com pontas duplas, tingidos ou fracos, você não tem mais tanta segurança de que sua escolha foi a melhor. O mesmo acontece na hora de comprar um carro, creme dental ou comida congelada. Ou no momento de escolher um namorado ou uma profissão. "Muita gente fica simplesmente paralisada com tantas opções", diz o psicólogo americano Barry Schwartz em seu livro, The Paradox of Choice ("O Paradoxo da Escolha", não lançado no Brasil). Está aí uma fonte de frustração e ansiedade.
Em 2000, Sheena Iyengar e Mark Lepper, das Universidades de Columbia e Stanford, montaram em uma loja dois estandes com amostras de geléia, um com 24 opções de sabor e outro com apenas seis. O número de clientes que comprou o produto foi dez vezes maior no estande menos variado, ainda que o outro tenha atraído 50% mais gente. Por que isso acontece? Schwartz sugere que nessas situações as pessoas avaliam intuitivamente os "custos de oportunidade": uma escolha implica abrir mão de todas as outras opções. Quando há centenas de possibilidades, escolher uma só significa "perder" muito mais. E, no mundo de hoje, em que cada um tem acesso ao mundo inteiro pela internet e quase não há limites para os nossos desejos, parece inevitável ficar ansioso - e infeliz - com tudo isso.
Pesquisando o assunto, o psicólogo encontrou padrões de comportamento que permitem dividir as pessoas em dois grupos: as que procuram fazer escolhas apenas satisfatórias, sem tentar alcançar a perfeição, e as que não sossegam até que encontrem "a melhor opção de todas". As pessoas do segundo grupo costumam fazer escolhas melhores, é claro. Mas as do primeiro ficam mais felizes com suas decisões. "A solução é diminuir o número de opções ou melhorar nossa maneira de fazer escolhas", diz Schwartz.
Então tá. Mas será que sabemos fazer as melhores escolhas para nossa vida? Segundo os pesquisadores Daniel Gilbert, Tim Wilson, George Loewenstein e Daniel Kahneman, a resposta é não. Decisões são tomadas tendo como base nossa previsão de como cada opção vai afetar nossas vidas. Porém, segundo eles, temos uma dificuldade enorme para avaliar o quanto um acontecimento vai nos deixar felizes ou infelizes.
Nós superestimamos a intensidade e a duração das nossas reações emocionais, ao mesmo tempo que subestimamos nossa capacidade de adaptação. Lembra da história dos ganhadores da loteria e acidentados paraplégicos que logo voltam ao nível normal de felicidade? Pois então: somos capazes de nos acostumar com quase tudo. Damos importância demais a escolhas que não são tão definitivas assim e esquecemos que uma decisão "errada" não é o fim do mundo. É uma questão de colocar limites nos nossos desejos. Em outras palavras, ser feliz é muito mais simples do que se pensa.

Simples? Então explique
Tem uma idéia central: não leve tudo tão a sério. "Leveza" é a palavra-chave. Não quer dizer que todos devamos instalar um sorriso permanente no rosto e começar a achar bom tudo o que acontece. Leveza significa entender que até as melhores sensações têm fim, assim como não há aborrecimento que dure para sempre. Não é para se tornar um bobo-alegre: às vezes as circunstâncias nos obrigam a reagir de jeito negativo, e isso não é necessariamente ruim.
Gianetti chama atenção para a diferença entre "ser feliz" e "estar feliz". "Existem pessoas que levam uma vida cheia de momentos de prazer, mas que não têm um caminho ou um significado. No extremo contrário estão aqueles que abrem mão do 'estar feliz' por só pensar no futuro e viver com prudência demais". Talvez o melhor caminho esteja entre esses dois. Atingir esse equilíbrio não é moleza e infelizmente não há fórmula mágica nem manual completo. O lance é prestar atenção a si mesmo e ir mudando aos pouquinhos. "As transformações mentais demoram e não são fáceis. Demandam um esforço constante", aconselha o dalai.
Felicidade não é um fim em si, e sim uma conseqüência do jeito que você leva a vida. As pessoas que procuram receitas e respostas complicadas para ela acabam perdendo de vista os pequenos prazeres e alegrias. É o dia-a-dia de uma pessoa e a maneira como ela reage às situações mais banais que definem seu nível de felicidade. Ou, para resumir tudo: um jeito garantido de ser feliz é se preocupando menos em ser feliz.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Lispector eterna

Clarice Lispector: Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo,...
Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Decisão do STF não garante Ficha Limpa para 2012

Enviado por Ricardo Noblat - 
24.3.2011
 | 22h12m
POLÍTICA

Decisão do STF não garante Ficha Limpa para 2012

Foto: O Globo

Cristiane Jungblut, O Globo
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quinta-feira que, ao decidir sobre a Lei da Ficha Limpa , o Supremo Tribunal Federal (STF) não determinou que a norma é válida para as eleições de 2012.
- O STF, ontem (quarta), tomou apenas uma decisão sobre a anualidade - afirmou o ministro. E completou: - Não tem nada seguro. Não é certo que a lei vale para 2012.
Segundo o ministro, o STF não se posicionou sobre a constitucionalidade da norma. Isso ocorreu apenas no ano passado, no julgamento do caso de Jader Barbalho, que terminou em um placar de 6 a 4 pela constitucionalidade da norma.
- Mas, no futuro, pode ter mudança e isso ser revisto - disse Lewandowski.
Isso porque em 2012, ano de eleições municipais, que pode trazer a norma novamente a debate, dois ministros do STF irão se aposentar, mudando a composição da Corte: Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso. Além disso, quando um caso tem votação apertada, o julgamento não é suficiente para consolidar entendimento.

Einstein, o homem que mudou o mundo (Superinteressante 02)


Einstein, o homem que mudou o mundo

Perfil de Albert Einstein.

Albert Eisntein foi o humilde demolidor da Física clássica e o fundador da ciência contemporânea. Depois dele, idéias como espaço, tempo, massa e energia já não são mais as mesmas.

Até a idade de três anos, ele não falou uma única palavra. Aos nove, tinha ainda tantas dificuldades de se expressar que seus pais temeram que pudesse ser retardado mental. Na escola, um professor profetizou que ele não seria nada na vida. Com apenas 26 anos, porém, publicaria sua Teoria Especial da Relatividade - uma das mais extraordinárias revoluções da história das idéias.
Einstein alcançou uma dimensão só comparável à do filósofo grego Aristóteles (século IV a. C.) e à do físico inglês Isaac Newton (1643-1727). Sua Teoria da Relatividade seria o marco fundador da Física contemporânea, com profundas repercussões em outros ramos da ciência. Ela daria a chave para a explicação da origem do Universo e para a desintegração do átomo. Mas a bomba atômica é a filha indesejada das elocubrações desse pacifista radical - um homem de bem com o mundo e a vida.
O físico brasileiro Mário Schenberg, que teve a sorte de conhecer Einstein pessoalmente, quando esteve na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, nos anos 40, lembra-se dele "com seu jeito muito simples, um grande casacão que costumava abotoar até a altura do pescoço, sandálias que nunca abandonava e imensa cabeleira. Essa imagem, algo como a de um velho hippie, seria registrada em incontáveis fotografias. Ele mesmo ironizou certa vez o assédio dos fotógrafos ao preencher numa ficha de hotel: profissão: modelo.
Dono de convicções profundamente democráticas, que o faziam tratar qualquer pessoa com igual distinção, Einstein era também portador de modéstia verdadeiramente encantadora. O físico Banesh Hoffman, que em 1972 escreveu uma importante biografia dele, lembra-se que, ao encontrá-lo pela primeira vez, estava muito nervoso por falar com um homem que era uma celebridade. Einstein pediu-lhe que expusesse suas idéias e acrescentou: "Mas, por favor, fale devagar, pois tenho dificuldade em entender as coisas rapidamente". A frase teve um efeito mágico, deixando Hoffman inteiramente à vontade.
Albert Einstein nasceu em 14 de março de 1879, numa família judia residente na pequena e velha cidade alemã de Ulm, às margens do Danúbio. Já no ano seguinte, os Einstein se mudaram para Munique, onde o pai, Hermann, e o tio Jakob, instalaram uma pequena oficina eletrotécnica. Do confronto com a massacrante disciplina do ensino alemão do século passado resultou a aversão de Einstein por qualquer forma de rigidez mental. Anos mais tarde. ele se referiria a seus professores como " sargentos disciplinadores".
Durante muito tempo, por um erro de avaliação dos boletins escolares, acreditou-se que Einstein tivesse sido um aluno medíocre. Seria melhor defini-lo como desajustado. Pois estudos biográficos mais recentes o mostram como um prodígio, dominando a Física de nível universitário antes dos 11 anos de idade.
Da mãe, Pauline, Einstein puxou sua natureza sonhadora, imaginativa. Foi ela também quem o pôs em contato com o violino, quando ele tinha 6 anos. Einstein ironizaria mais tarde sua capacidade musical: "Só eu apreciava o que tocava". Os biógrafos, porém, garantem que, embora pudesse não ter o virtuosismo de um profissional, era um violinista brilhante. Seja como for, os dons que herdou da mãe a música e o devaneio seriam seus maiores refúgios nos momentos difíceis da vida.
Outra influencia familiar - dos tios Jakob e Cäsar Koch - o empurrou para a Física e a Matemática. Aos 12 anos, travou contato com um livro sobre a Geometria de Euclides. Sua paixão infantil por instrumentos como a bússola tomava agora rumos mais ambiciosos, e ele decidia dedicar a vida a desvendar os mistérios do "grande mundo".
Três anos mais tarde, a família se mudava para Milão, Itália. Einstein adorou os campos verdes e ensolarados da Toscana - e a oportunidade de escapar da escola por um ano. Sem dinheiro. viajava de carona - e devaneava. Aos 16 anos, por exemplo, se pôs a pensar em como uma pessoa veria um raio de luz se pudesse viajar ao lado dele, em velocidade aproximadamente igual. Essa divagação que anotou num ensaio, seria o ponto de partida para sua Teoria Especial da Relatividade.
Na primeira tentativa de entrar para a renomada Escola Politécnica de Zurique, foi reprovado no vestibular. Ele tinha ainda 16 anos - dois a menos do que a idade-padrão para ingresso no ensino superior. Um ano mais tarde, melhor preparado, conseguiu passar nas provas de admissão. Continuava a ser, porém, um aluno rebelde, faltando às aulas, lendo o que não constava do currículo e irritando os professores com perguntas consideradas impertinentes. Formou-se em 1900, graças ao amigo Marcel Grossmann, aluno irrepreensível, que lhe emprestava anotações de aula. Mas estudar para os exames finais teve um efeito tão inibidor sobre ele que, durante um ano, considerou "desagradável qualquer problema científico".
Depois da formatura, adotou a cidadania suíça. Rejeitado na tentativa de se tornar professor universitário, conseguiu emprego como técnico de terceira classe no Serviço Suíço de Patentes, em Berna. O cargo era medíocre, mas tinha a vantagem de lhe dar bastante tempo livre para as próprias divagações e cálculos científicos, que Einstein escondia na gaveta assim que ouvia passos se aproximando.
É o máximo da ironia pensar que as anotações que iriam revolucionar o mundo precisavam ser ocultadas para que os colegas e os superiores não descobrissem que ele estava se dedicando a outras atividades no local de trabalho.
Em 1903, casou-se com sua ex-colega de escola, Mileva Maric, com quem passou a viver num modesto apartamento perto do emprego. Dois anos depois, publicaria na prestigiosa revista científica alemã Annalen der Physik um conjunto de quatro artigos que iria revolucionar seu destino - e o conhecimento humano.
O primeiro tratava do chamado movimento browniano - o ziguezague feito pelas partículas em suspensão num líquido. Einstein mostrou como esse movimento permitia compreender a natureza das moléculas. O segundo investigava a causa do efeito fotoelétrico - -o fato de certos corpos emitirem elétrons quando atingidos pela luz. Ele explicou que isso se devia ao fato de que a luz, até então tratada pela Física como uma onda continua, era composta de diminutas partículas de energia.
No terceiro artigo, apresentava ao mundo sua Teoria Especial da Relatividade, em que subvertia as idéias fundamentais da Física clássica, ao mostrar que o espaço e o tempo não eram grandezas absolutas, independentes dos fenômenos, como pensara Newton, mas grandezas relativas, que dependiam do observador (veja o quadro da página 58 ). No quarto artigo, finalmente, a partir de um desenvolvimento matemático da Teoria Especial da Relatividade, constatava a equivalência entre massa e energia, expressa na famosa equação E=mc2.
As quatro comunicações de 1905 feitas por um funcionário público de apenas 26 anos, trabalhando nas horas vagas, foram uma façanha realmente espantosa. Não é por acaso que muitos historiadores da ciência chamam 1905 de "o ano milagroso". Ele só tem paralelo com o ano de 1666, quando Newton, aos 24 anos, isolado no campo devido a uma epidemia de peste bubônica, produziu uma explicação para a natureza da luz, criou os cálculos diferencial e integral e ainda vislumbrou sua futura Teoria da Gravitação Universal.
Mas a fama não veio imediatamente para Einstein. O Prêmio Nobel de Física, por exemplo, só lhe seria dado em 1921. Ao contrário do que muita gente pensa, ele foi contemplado não pela Teoria Especial da Relatividade nem pela Teoria Geral da Relatividade, de 1916, suas duas maiores contribuições à ciência, mas pelo estudo sobre o efeito fotoelétrico.
De qualquer forma, os artigos de 1905 tornaram-no respeitado pelos mais eminentes físicos da Europa. Suficientemente respeitado para que pudesse logo trocar o modesto emprego de inspetor de patentes pela carreira de professor universitário. Assim como o tempo relativo de sua teoria flui em diferentes velocidades, dependendo do observador, também seu tempo existencial começava a correr mais rápido.
Em I9l4, está de volta à Alemanha, atraído por um convite da Academia Prussiana de Ciências. A Primeira Guerra Mundial o apanhou na capital alemã, enquanto a mulher e os dois filhos passavam férias na Suíça. A separação forçada acabaria apressando o fim de seu casamento, que já não era muito sólido. Não foi por motivos pessoais, porém, que Einstein se colocou ativamente contra a guerra.
Eram razões de consciência muito profundas que faziam dele uma das poucas grandes vozes a se levantar contra a conflagração que eliminava milhares de vidas.
Um "sentimento cósmico religioso` o impelia à Física teórica, em busca dos fundamentos mais gerais do Universo. Relutantemente, ele admitia também um "apaixonado senso de justiça e responsabilidade social". Foi essa dimensão ética, que tem tanto a ver com a tradição profética judaico, embora Einstein não seguisse nenhum rito religioso, que o levou ao pacifismo e, mais tarde, ao socialismo democrático.
Os quatro anos da Primeira Guerra Mundial assistiram à síntese perfeita desses dois lados de sua personalidade. Enquanto se aprofundava cada vez mais na propaganda antibelicista, mergulhava também num dos mais extraordinários processos de elaboração mental já ocorridos na história da ciência. Seu assunto era agora a gravitação, essa característica da natureza que faz com que uma pedra atirada ao ar caia de volta na Terra e mantém os planetas em órbita ao redor do Sol. Mais uma vez, Einstein confrontava uma das interpretações centrais da Física newtoniana.
Newton pensara a gravitação como uma força que agia à distancia entre os corpos. Einstein concebeu a gravitação como uma curvatura provocada no espaço-tempo pela presença de massa. Essa ousada idéia, tornada pública em 1916, com a publicação da Teoria Geral da Relatividade, completava a demolição do edifício da Física clássica, iniciada em 1905.
Em 1919, as predições feitas pela Relatividade Geral eram confirmadas pela observação. O impacto foi espetacular: logo Einstein era considerado, talvez até com certo exagero, o maior gênio de todos os tempos. As solicitações da fama o arrastariam a inúmeros países, inclusive o Brasil. Algo contrariado, ele temia que isso prejudicasse suas atividades científicas.
Já em 1919, o excesso de trabalho quase o levara à morte por esgotamento físico. Os amigos que o visitavam contam que ele não tinha hora para parar de trabalhar e que, muitas vezes, só deixava a escrivaninha quando alguém insistia para que fosse deitar. Durante o período de recuperação, uma das pessoas que tratou dele foi sua prima Elsa Lowenthal. Naquele mesmo ano, Einstein se casaria com ela.
Durante a década de 20, a ascensão do nazismo na Alemanha o chamou de volta à atividade política. Abdicando de sua inclinação natural pela quietude e a contemplação, ele se empenhou com toda coragem contra o novo regime que se desenhava no horizonte. Ao mesmo tempo, as crescentes ameaças aos judeus na Europa o levaram a aderir à causa sionista, com sua reivindicação de um território nacional judáico. Os nazistas responderam ao seu engajamento com uma violenta campanha de calúnias.
Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, Einstein percebeu que sua permanência no pais se tornara insustentável. Decidiu aceitar o convite da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, para que integrasse seu Instituto de Estudos Avançados. Após deixar a Alemanha, soube que os nazistas haviam posto sua cabeça a prêmio por 20 mil marcos - uma pequena fortuna, à época. "não sabia que valia tanto", comentou, irônico.
A avaliação que tinha sobre seu "valor monetário" era realmente modesta. Quando os americanos lhe perguntaram que salário considerava justo para si, sugeriu a ninharia de 3 mil dólares anuais. Diante do espanto dos interlocutores, achou que tinha exagerado - e propôs uma quantia ainda menor. Acabou con-tratado por 16 mil dólares por ano.
O excepcional prestígio de que desfrutava fez com que naturalmente se transformasse num pólo de atração para os muitos cientistas europeus imigrados nos Estados Unidos.Sob a pressão desses cientistas apavorados, com a possibilidade de a Alemanha nazista fabricar, a partir da própria Teoria da Relatividade. a bomba atômica e conquistar o mun-do, Einstein concordou em subscrever a famosa carta ao presidente Norte-americano Franklin Roosevelt, recomendando que os Estados Uni-dos acelerassem suas pesquisas rumo à arma atômica. Quando soube mais tarde que os nazistas estavam muito longe de fabricar a bomba, Einstein lamentou profundamente a decisão que havia tomado.
Seus últimos 20 anos de vida, passados nos Estados Unidos, foram relativamente pacatos. Instalado no campus da Universidade de Prince-ton, seu tempo era dividido entre as três atividades prediletas: tocar violi-no, velejar e devanear. Só que seus devaneios tomavam a forma de uma Teoria Unificada do Campo, capaz de sintetizar os dois grandes ramos em que estava dividida a Física na época: a gravitacão e o eletromagne-tismo. Ou seja, ele procurava nada menos que a lei geral do Universo.
Einstein morreu no dia 18 de abril de 1955, sem: realizar esse seu último sonho. Não admira: os físicos continuam a sonhá-lo até hoje.

As idéias que demoliram a velha ciência
Em 1887, descobriu-se que um sinal luminoso viaja sempre à mesma velocidade no espaço vazio. A partir dessa descoberta, Einstein iria demolir o edifício da Física clássica. Ele percebeu que a constância da velocidade da luz punha em xeque o conceito tradicional de simultaneidade.
Assim: imagine-se um carro numa estrada plana e dentro dele uma lâmpada a igual distancia do vidro dianteiro e do vidro traseiro. Quando a lâmpada é acesa, a luz atinge os dois vidros ao mesmo tempo. Isso para um passageiro no carro; para uma pessoa na estrada, a luz chega antes ao vidro de trás, pois - devido ao movimento do carro - este se aproxima do ponto em que a luz foi emitida, enquanto o vidro da frente se afasta. Qual dos dois observadores tem razão? Os dois.
O paradoxo forçou uma completa revisão dos conceitos clássicos de espaço e tempo e deu origem à Teoria Especial da Relatividade. Espaço e tempo não são grandezas absolutas que independem do observador, mas relativas. As medidas de espaço, tempo e massa realizadas a partir do carro em movimento e as realizadas a partir da estrada relacionam-se por um conjunto de expressões matemáticas propostas, no começo do século, pelo físico holandês Hendrik Lorentz. Pelas transformações de Lorentz, uma régua viajando no carro terá seu comprimento encurtado quando medida da estrada. Já o tempo e massa se dilatarão.
Conseqüência direta da Teoria Especial da Relatividade é a idéia de que a massa pode ser convertida em energia e vice-versa. A fórmula de equivalência entre elas é a famosa E = mc2, onde E é energia, m, massa e c, a velocidade da luz no vácuo. Pequena quantidade de massa pode transformar-se em grande quantidade de energia -como seria confirmado pela bomba atômica. E grande quantidade de energia pode se converter em pequeno acréscimo de massa - como ocorre nos aceleradores de partículas.
Todas essas concepcões, porém, fornecem ainda uma descrição restrita da realidade, já que o seu ponto de partida, como no exemplo do carro, é o de observadores imóveis ou que se desloquem em movimento retilíneo e uniforme os chamados sistemas de referencia inerciais. Onde encontrá-los, porém, neste Universo em que tudo se move de maneira tão complicada? A extensão desses conceitos para qualquer sistema de referência levou Einstein à Teoria Geral da Relatividade de 1916. Seu objeto de estudo foi o fenômeno da gravitação.
Nos marcos da relatividade geral, espaço e tempo deviam ser pensados como um sistema quadridimensional curvo - algo completamente inacessível à nossa imaginação, mas não ao raciocínio matemático. Essa curvatura do espaço tempo é determinada pela presença de massa, o que permitia a Einstein descartar a idéia clássica de que a atração é causada por uma força agindo à distância. Os planetas são mantido em suas órbita não devido à força gravitacional, entendida como mera atração entre os corpos, mas a um encurvamento do espaço-tempo produzido pela enorme massa do Sol.
As predições da Teoria da Relatividade foram confirmadas pela experiência. Einstein afirmara que uma quantidade de massa, como a de uma estrela, seria capaz de curvar de forma sensível um raio de luz que passasse por suas imediações. Isso seria confirmado numa célebre observação realizada em 1919. Era a consagração da Teoria da Relatividade e de seu autor.

Revista Superinteressante 02


Como se pode saber quando cai o carnaval de cada ano?

Como se estabelece a data do carnaval a cada ano.

O primeiro passo é descobrir quando cai o domingo de Páscoa: é sempre o primeiro domingo após a primeira lua cheia do outono no hemisfério sul ou da primavera no européia. Determinada esta data, retrocede-se 46 dias no calendário – quarenta dias da Quaresma e mais 6 da Semana Santa – e chega-se a Quarta-feira de Cinzas. Os três dias anteriores correspondem ao período do Carnaval. A palavra vem do latim carmen levare ou carnelevarium, que quer dizer " livrar-se da carne" e tem a ver com o fato de que na Quaresma os primeiros cristãos se abstinham de comer carne.

Revista Superinteressante 01


Viagem imaginária à velocidade da luz

Fenômenos que serão observados se um dia o homem puder viajar pelo espaço próximo à velocidade da luz.

A maior velocidade que o homem já conseguiu viajar até hoje é de 40.000 quilômetros por hora, alcançados pela nave espacial tripulada Apollo 11, em 1969. Que esse limite será ultrapassado, não resta dúvida. A questão, porém, é saber quão próximo o homem ficará dos 300.000 quilômetros por segundo da velocidade da luz. Viajar tão rápido é impossível, porque nessa velocidade tudo que for matéria se transformará em energia pura. Mas, se chegar perto desse limite, o homem poderá alcançar galáxias distantes e observar fantásticos fenômenos luminosos durante a viagem. Isso só será possível quando se desenvolver um sistema de propulsão suficientemente potente para impelir uma nave a velocidades altíssimas.
Os foguetes existentes aceleram logo após o lançamento e, depois, realizam a viagem a uma velocidade constante. A aceleração inicial nunca é superior a sete vezes a aceleração causada pela gravidade que nos puxa para a terra, ou seja, sete vezes 9,81 m ( 68,67 m) por segundo. Como o organismo humano só suporta essa aceleração por pouquíssimo tempo, os cientistas acreditam que, para se atingir uma velocidade próxima à da luz, o melhor seria manter uma aceleração constante tolerável ao homem. Um foguete, cuja aceleração fosse mantida igual à gravidade da Terra, alcançaria a velocidade da luz em apenas um ano de vôo.
A tecnologia disponível ainda não permite a construção desse foguete com a aceleração constante o falta descobrir um combustível que, além de super potente, possa ser armazenado em espaço razoável e o isso porque, como o físico alemão Albert Einstein provou, a massa de um corpo aumentar gradativamente em altíssima velocidade. Quando um foguete estiver a 10% da velocidade da luz, ou 30.000 quilômetros por segundo, ou ainda 0,1 c ( em física, c é igual à velocidade da luz), sua massa começar a crescer. Logo, a força necessária para acelerá-lo será cada vez maior. Resultado: para obter uma aceleração constante, se precisará sempre de mais e mais energia. A NASA, a agência espacial norte-americana, já desenvolveu um acelerador atômico, capaz de deslocar partículas de matéria a alta velocidade. Num túnel construído em torno da cidade de Chicago, nos Estados Unidos, acelerou-se um próton, minúscula partícula de um átomo de matéria. Ao completar o percurso, a partícula estava muito próxima à velocidade da luz.
Já se pensou em um foguete movido a laser: canhões emissores de energia refletiriam os raios do sol em direção à nave, de forma a impulsioná-la no espaço. Há também um projeto de foguete movido a hidrogênio, capaz de abastecer esse em vôo, captando as partículas de hidrogênio que existem em abundância no Cosmos. Assim, não precisaria partir carregado de combustível. Outra alternativa, ainda, seria o foguete de propulsão iônica, em que se obtém energia - no caso, energia nuclear - a partir da desintegração de íons ( átomos com carga elétrica negativa muito alta). O sistema já tem sido utilizado para corrigir as órbitas dos satélites artificiais. O ideal, porém, seria um foguete movido a ao que os cientistas chamam de energia fotônica, gerada pela fusão de matéria e antimatéria, ou seja, fusão de partículas atômicas com massas e idênticas, mas com cargas elétricas opostas. Quando essa fusão acontece, são liberados e energia e fótons - partículas atômicas com carga elétrica nula. A energia obtida será tão potente que, graças a ela, um foguete de 100.000 toneladas alcançaria a velocidade de 1100 quilômetros por segundo em menos de dez dias e meio. Claro que isso, por enquanto, é apenas um sonho. Entre outros problemas, há o de como armazenar o combustível.
Vamos imaginar, porém, que tais problemas já foram resolvidos e que, num luminoso dia qualquer do futuro, seres humanos estarão instalados a bordo de um foguete pronto a partir com destino a Andrômeda, a galáxia mais próxima da Via Láctea, situada à assombrosa distância de 2 milhões de anos-luz da Terra. ( O ano-luz é uma unidade de medida de distância equivalente aos 9,4605 x 1012 quilômetros percorridos pela luz , no período de um ano). O as três primeiras semanas da viagem a Andrômeda não oferecem grandes novidades - pelo menos em relação ao que virá depois. Já na quarta semana, por exemplo, tem-se o primeiro espetáculo, propiciado pela velocidade com que se realiza a viagem: as estrelas mudam de cor.
As estrelas que parecem aproximar-se, à medida que a nave se desloca, assumem tons de azul e violeta. Ao se afastarem, ficam avermelhadas e esverdeadas. Quanto mais rápido o foguete, maior a variedade de cores, a ponto de o espaço se assemelhar a um imenso arco-íris. É o chamado efeito Doppler: quando uma fonte de luz ou de som se movimenta em relação a um observador, ou vice-versa, a freqüência das ondas luminosas ou sonoras aumenta na aproximação e diminui no afastamento. Em relação à luz, o efeito Doppler não pode ser percebido, pela simples razão de que as maiores velocidades até agora conseguidas pelo homem são de longe insuficientes para que o fenômeno ocorra.
Mas os astronautas em viagem a Andrômeda certamente verão tudo o que estiver à frente em tons violáceos - e tudo o que tiver ficado para trás em tonalidades quentes. Isso porque a freqüência das ondas luminosas é maior no azul e menor no vermelho. Quando a velocidade da nave chegar a 0,23 c, ou 23% da velocidade da luz, Andrômeda deixará de ser apenas uma mancha leitosa - como, por sinal, pode ser vista na Terra até a olho nu, em noites límpidas - e emitirá raios amarelados. Enquanto isso, a espiral azulada da Via Láctea, cada vez mais distante, irá adquirindo tons de vermelho e púrpura.
Essa diferença na freqüência das ondas luminosas aumenta tanto que, quando o velocímetro da nave marcar 0,94 c ( 282.000 quilômetros por segundo), os raios procedentes de Andrômeda estarão na gama dos ultravioletas. E a freqüência das ondas luminosas da Via Láctea cairá para o infravermelho. A 0,9999994 c, ou seja, quando a nave avizinhar-se da velocidade da luz, deslocando-se a precisos 299.999,82 quilômetros por segundo, a freqüência do brilho de Andrômeda ultrapassará a gama dos ultravioletas, ficando equivalente aos raios X. Se nesse instante fosse possível ver o foguete da Terra, num telescópio, sua imagem seria a de uma radiografia. Ou seja, a nave espacial seria visível, já que a luz de Andrômeda que chega à Terra é branca. Mas, ao mesmo tempo, seria possível enxergar através da nave e dos próprios astronautas, como se fossem transparentes, pois a luz visível de Andrômeda passa pela nave como ondas de raio X.
Além das alterações de cores, quando os astronautas estiverem viajando a uma velocidade próxima à da luz, haverá também mudanças no formato das coisas. As linhas se deformam, as galáxias parecem espirais. Pouco a pouco, o Universo começa a se transformar em um túnel colorido, estreito e infinito. Isso acontece por dois motivos: primeiro, por causa das diferenças na freqüência das ondas luminosas; segundo, porque quando a velocidade é altíssima, logicamente a distância entre um observador e um objeto qualquer em sua direção diminui com uma rapidez tão incrível, que causa a impressão de haver distorções.
Talvez o mais fantástico de tudo não seja esse caleidoscópio em que parece ter-se transformado o Universo. Não são apenas as ondas luminosas que parecem diferentes para os astronautas, em relação aos observadores da Terra: o tempo também passa a ser percebido de maneira diferente. A Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, afirma que, a partir de um movimento no Universo, pode-se medir uma parte do espaço e uma parte do tempo. O que quer dizer isso exatamente? Quer dizer que quanto mais veloz estiver a nave, não aumentará apenas a distância entre ela e a Terra, aumentará também a distância entre o tempo medido na Terra e o tempo dentro do foguete.
Dezessete minutos marcados pelo relógio do astronauta equivalerão a uma hora na Terra, quando a nave atingir 96% da velocidade da luz. A 0,97 c, a hora terrestre ficará ainda menor no foguete: apenas 12 minutos. Enfim, à velocidade de 0,99 c, uma hora terrestre inteira valerá irrisórios 6 minutos a bordo. Em resumo, o tempo da nave é mais lento que na Terra. Se o foguete conseguisse voar à velocidade da luz, aconteceria algo espantoso: o tempo simplesmente deixaria de existir para quem estivesse a bordo.
Evidentemente, o astronauta não tem a sensação de que o tempo transcorre mais devagar. Para ele, o relógio parece funcionar como sempre, marcando 1h a cada 60 minutos.
O fenômeno pode ser explicado ao se imaginar dois observadores: primeiro, dentro de um trem a alta velocidade e outro, parado na estação. No teto desse trem foi colocado um espelho, que reflete a luz de uma lanterna deixada no chão do vagão. Para o passageiro do trem, o feixe de luz forma uma linha perpendicular com comprimento equivalente à altura da cabine. Já para o observador da estação, o feixe luminoso forma um triângulo: até que a luz consiga alcançar o teto, o espelho está mais adiante, porque o trem se movimenta; da mesma maneira, quando a luz é refletida pelo espelho e volta em direção à lanterna, esta também já se deslocou à frente, pelo mesmo motivo. Assim, a distância percorrida pela luz parece ser muito maior para o homem da estação, que vê duas linhas inclinadas formando o triângulo. Então, embora na verdade a luz tenha a mesma velocidade para os dois observadores, como a distância entre a lanterna e o espelho é menor para quem está no trem, em relação a quem está na estação, logicamente o tempo necessário para luz ir e voltar refletida é menor para o passageiro, em relação ao homem da plataforma. O fenômeno da luz refletida é o mesmo para os dois observadores, mas o tempo parece diferente.
Esse mesmo exemplo permite notar que ele, em altas velocidades, aumenta a relação entre espaço e tempo. Pois a velocidade nada mais é do que determinado espaço percorrido em determinada unidade de tempo. Se não fosse assim, o espaço seria absoluto para os astronautas e a distância entre o planeta Terra e a Galáxia de Andrômeda nada teria a ver com a velocidade do foguete. Nesse caso, mesmo viajando à velocidade da luz, um terrestre levaria 2 milhões de anos para chegar à galáxia. Como, porém, a distância é relativa, se o astronauta viajasse a 99% da velocidade da luz, gastaria apenas 28.000 anos até seu destino - fantástica economia de tempo em comparação com a hipótese anterior. Mas isso não é nada: a 99,999999% da velocidade da luz, a viagem duraria 283 anos; e a 99,9999999999% levaria um piscar de olhos - brevíssimos três anos.
Essa contração das distâncias só pode ser observada a velocidades muito altas. Mas, graças a ela, o ser humano pode cultivar a esperança de viajar até galáxias distantes. O último desafio será sempre o da enorme quantidade de energia necessária para movimentar o foguete. À metade da velocidade da luz, a massa da nave espacial aumentará 15%. À velocidade da luz, ela seria infinita. Em conseqüência, a nave se transformaria num buraco negro, atraindo para si tudo o que há no Universo. Tudo se fundiria em um estado conhecido por singularidade, onde não há tempo nem espaço reais. Um final mais do que catastrófico para a viagem a Andrômeda, sem dúvida.
Mas, como o foguete imaginário seguirá quase à velocidade da luz, sem alcançá-la, o limite entre o tempo e o espaço ficará preservado e a nave poderá voltar à Via Láctea. Entre a partida e o regresso, pouco mais de seis anos terão transcorrido para o astronauta. Para quem ficou no planeta, porém, terá se passado a bagatela de 4 milhões de anos - bastante para que o astronauta sequer reconheça a Terra onde nasceu.