quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A BOA É A MÁ NOTÍCIA

Fabrício Carpinejar

Ninguém pode ter expectativas para não se frustrar - eis a nova regra terapêutica.

A recomendação é que não crie expectativas, não imagine o que virá, não alimente fantasias.

Há uma necessidade de se prevenir das decepções, de evitar o sofrimento.

Portanto, não sonhe antes, improvise, aja com o que surgir pela frente. Não idealize. Não se prenda às palavras. Não acredite naquilo que foi marcado. Não fique chateado à toa.

Plantaram em nossos vasos cardíacos a muda do ceticismo. Que aproveitar a vida é não ter fé, é abandonar a esperança, é não aguardar coisa alguma para não gerar cobrança e reclamação dentro do casamento.

Vejo uma orientação para a leveza, para o imediatismo, para o esquecimento total das predisposições.

É como pedir para se importar com alguém sem se importar, é como pedir para ser dedicado a alguém sem se dedicar, é como pedir para se declarar sem nenhum plano posterior.

Imagina começar um relacionamento sem pensar em casar, em ter filhos, em viver o resto dos dias lado a lado? Qual o sentido? Imagina namorar deslocado da perspectiva de morar junto? Imagina seguir sem evolução, sem amadurecimento, sem um passo a mais? Como ter entusiasmo sem nenhum vínculo? Como explicar o que se sente sem a oferta do próprio tempo?

Todo o relacionamento é a possibilidade de futuro mais do que o presente. A promessa mede a entrega. O compromisso valoriza a escolha.

Ou você oferece sua vida inteira ou você está unicamente se entretendo. Não há uma terceira opção.

Diminuir a expectativa é diminuir, consequentemente, a felicidade.

A ansiedade em ganhar o que se espera agrava a tristeza, porém também antecipa a alegria.

A festa começa desde o momento em que compro a roupa. O cinema começa desde o momento em que aceitei o convite. O jantar começa desde o momento em que escolhi o restaurante.

A vida a dois é formada de vésperas. Não saber o que vai acontecer exercita a confiança.

Esperar trará surpresa, ainda que ruim. Permaneceremos atentos, permaneceremos ansiosos, permaneceremos explicando os nossos gostos, permaneceremos defendendo as nossas vontades.

Ao prometer somente o que posso entregar, eu me limito ao que desejo, ao que sou, e acabarei me repetindo. A expectativa do outro me salva de ser sempre o mesmo. A expectativa aumenta a minha capacidade.

O importante é não se conformar com as esmolas das certezas. Um dia reduziremos tanto as exigências que desaprenderemos a falar.

Grandes casamentos vêm de grandes expectativas. Casamentos fracassados vêm de ausência de expectativas.

É de menos se o outro vai corresponder ou não, se o outro está na nossa cabeça ou não, desde que esteja em nosso coração.

O conselho de combater a culpa retraindo a ambição amorosa apenas faz efeito para quem não ama. Só não tem expectativas quem não está amando. Só não tem expectativas quem é indiferente dentro da relação, pois será fácil se desapegar, tudo passa a contar com idêntico valor para ser aceito e recusado.

Quem ama sofrerá ao sonhar e ao acordar. Mas jamais estará desacompanhado em ambos os casos.

Texto publicado na Revista Digital do Encontro com Fátima Bernardes:  http://migre.me/nkdE9