Enviado por Ricardo Noblat -
18.04.2013 | 16h23m
ECONOMIA
Novo ciclo de aperto
Miriam Leitão, O Globo
Um aumento de 0,25 ponto percentual
na taxa de juros dá o sinal de que será um ciclo um pouco mais longo. Melhor
que fosse mais forte e curto para evitar o excesso de tensão pré-copom que
houve desta vez. A boa notícia é que a inflação vai desacelerar ao longo do
ano, após o pico em junho, mas ainda ficará perto do teto. Pior que a alta dos
juros é o efeito da inflação sobre os endividados.
A desaceleração da inflação não será
forte. Na expressão do economista Luiz Roberto Cunha, será “lenta e gradual”, o
que significa que os preços permanecerão altos, mas instalados num ponto mais
confortável da faixa de flutuação permitida pelo sistema de metas.
— O tomate já está desabando, a
carne está caindo, outros hortifruti vão reduzir o preço com a chegada das
temperaturas mais amenas que são mais favoráveis à produção — afirmou o
economista.
Alguns produtos continuarão com
problemas, como o leite, por exemplo, que enfrenta o efeito combinado de uma
seca forte na Nova Zelândia e uma explosão nas importações de leite em pó pela
China.
Houve o adiamento do reajuste dos
ônibus que têm um peso forte de 2,67 pontos no índice de inflação. As tarifas
serão elevadas em junho. Mas o governo prepara para o dia primeiro de maio uma
série de anúncios, um deles, a retirada de PIS/Cofins sobre diesel e pneus,
para atenuar a alta do ônibus. Mesmo assim, o índice de junho pode provocar, de
novo, o estouro do teto da meta porque no ano passado a inflação de junho foi
de 0,08%.
— Mas, no segundo semestre do ano
passado, a inflação foi alta quase todos os meses — agosto, 0,37%; setembro,
0,53%; outubro, 0,43%; novembro, 0,52%; e dezembro, 0,50% — e isso por causa da
seca nos Estados Unidos, que não vai se repetir na mesma intensidade e que
afetou os preços de várias commodities agrícolas — diz Luiz Roberto.
Este ano haverá uma pressão menor do
câmbio. Ele tem subido nos últimos dias, mas no ano passado saiu de R$ 1,70 para
mais de R$ 2,00, e isso teve um grande impacto nos preços.
O sócio-presidente da GoOn
consultoria, Fernando Manfio, especializada em gestão de risco de crédito, acha
que um aumento pequeno dos juros não terá muito efeito sobre a inadimplência
porque o custo do dinheiro no Brasil continua muito alto, mesmo com a redução
recente da Selic. Os juros oficiais tinham caído, mas as taxas cobradas pelos
bancos subiram.
Por outro lado, ele explica que o
aumento da inflação não estava no radar durante o ciclo de forte concessão de
crédito e isso está tirando renda dos endividados e contribuindo para os
atrasos no pagamento de dívidas.
— Se a gente olhar para o início do
ciclo de forte expansão do crédito, ainda no governo Lula, a inflação alta não
estava no radar de ninguém. Ela é um fator novo, que tem contribuído para a
inadimplência, principalmente das classes de menor renda. Muita gente fez
dívida pela primeira vez, com prazos longos de pagamento, como no caso dos
veículos, e agora está tendo um gasto elevado com alimentação, e ao mesmo tempo
continua tendo as parcelas para pagar — explicou.
A elevação das taxas poderia ajudar
a afastar as dúvidas sobre o Banco Central, o que afetará positivamente as
expectativas. Mas foi tão pequena que talvez não faça o efeito esperado. O
Banco Central está de olho também na área externa, que, nos últimos dias, teve
grande deterioração.
A decisão de ontem do Banco Central
não resolve o problema da inflação, a desaceleração já prevista ajudará a
reduzir a tensão em relação ao problema durante o ano. Mas as taxas de inflação
continuam muito altas no Brasil e outros fatores atuam para que ela permaneça
muito perto do teto da meta.
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