terça-feira, 26 de junho de 2012

Bauman

"Sociedade do consumo e do crédito não funciona mais"
Entrevista concedida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman ao jornalista Sílio Boccanera, do programa Milênio, da Globo News. O Milênio é um programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura Globo News às 23h30 de segunda-feira, com repetições às 3h30, 11h30 e 17h30 de terça; 5h30 de quarta; e 7h05 de domingo. Leia, a seguir, a transcrição da entrevista:

Quando as ruas de Londres e outras cidades inglesas assistiram no ano passado a explosões violentas de saques e incêndios, um detalhe chamou a atenção de sociólogos e outros analistas: o movimento não tinha slogans políticos, não articulava exigência, nem apresentava protestos. Teóricos tentam explicar a explosão, responsabilizando desde a ausência de estrutura familiar à pobreza, desemprego, falta de educação formal e de perspectiva, sobretudo para os jovens. O sociólogo Zygmunt Bauman, polonês radicado na Inglaterra, tem sua própria versão. Ele viu nos distúrbios ingleses a expressão radical da sociedade de consumo em que as pessoas buscam sua identidade não naquilo que são, mas naquilo que consomem e exibem como se dissessem: “Eu sou o que o que eu compro”. Esse fenômeno faz parte da fluidez na sociedade de consumo onde não se valoriza o permanente, mas o temporário; onde predomina o que Bauman chama de modernidade líquida na medida em que nada é sólido ou conserva a forma por muito tempo. Tudo em mudança, vive-se inconstância, o que provoca insegurança e medo. Bauman é prolixo na produção de artigos, conferências e livros. Suas obras correm o mundo, inclusive o Brasil onde ele tem uma dúzia de livros publicados e bem vendidos. Bauman recebeu o Milênio em sua casa em Leeds, norte da Inglaterra.

Silio Boccanera — Mal saímos da crise financeira de 2008 e o mundo parece estar entrando em outra. As pessoas estão achando que será tão ruim quanto. O que isso está fazendo com as pessoas, com a sociedade?
Zygmunt Bauman — Não sei se estamos entrando em outra depressão. Na minha opinião, nós não saímos da depressão iniciada dois ou três anos atrás. Ainda temos prognósticos muito ruins, em especial se perguntarmos sobre a situação das pessoas, e não a situação de Bolsas de Valores, bancos ou governos. As pessoas comuns estão vivendo com muita ansiedade e medo ininterruptamente, pois, na maioria dos países, com poucas exceções, há desemprego de longo prazo que não para de aumentar. Os últimos 30 anos têm sido assim: os jovens pegavam a condição em que foram criados como ponto de partida e iam além. Eles avançavam para além do que os pais fizeram. Agora, eles descobrem, chocados, que terão sorte se mantiverem o que os pais conseguiram.

Silio Boccanera — Isso cria uma sociedade diferente, não?
Zygmunt Bauman — Sim. Nós nos acostumamos, no período de economia neoliberal, da economia Reagan-Thatcher, a ideia de que podíamos viver com empréstimos. Com o passar do tempo, era cada vez mais fácil pagar nossas dívidas. O preço dos imóveis subia infinitamente, e todos os bancos e administradoras de cartões de crédito insistiam para que nós tivéssemos cartões e fizéssemos empréstimos. Eles mesmos se habituaram a viver e a lucrar dos juros pagos pelos empréstimos. Uma pessoa sem empréstimos, sem dívidas, é inútil para o banco, não dá lucro.

Silio Boccanera — É uma sociedade do crédito.
Zygmunt Bauman — Exato.

Silio Boccanera — Sociedade do consumo e do crédito.
Zygmunt Bauman — Isso. Esse crescimento econômico dos últimos 20, 30 anos, deveu-se inteiramente ao uso de dinheiro que não estava em nossas mãos. “Aproveite agora e pague depois.” A filosofia era essa. Há 30 anos, trocamos o cartel das cadernetas de poupança pelo dos cartões de crédito, que é exatamente o oposto. E chegou a hora de encarar as consequências disso. Os imensos valores pagos aos bancos para se recapitalizarem, pelos governos, terão que ser pago por nossos filhos e netos. Nós hipotecamos o futuro. Não para nossa geração, mas para as gerações futuras.

Silio Boccanera — No meio de 2011, houve rebeliões na Inglaterra. O senhor estava no país na época. Imagino que não estivesse surpreso de ver que os principais alvos eram as lojas. Os jovens pegavam tênis, camisas de marca. Eles não pareciam nem ter uma motivação política. Eles queriam consumir. O senhor também vê assim?
Zygmunt Bauman — Muito do que aconteceu era esperado, na verdade. As regiões de Londres onde os conflitos ocorreram tinham taxa de desemprego três vezes maior que a média. Há muitas pessoas desempregadas, em especial, jovens, que não têm nada para fazer, morrem de tédio, sem perspectivas de emprego. Imagine-se nessa condição. No meio do seu bairro, há um shopping center todo iluminado, um supermercado, convidando todos que têm direito de entrar lá. Oficialmente, não há necessidade de um visto para entrar nesses lugares, mas os guardas ficam de olho nas pessoas que andam por ali à toa, que não prometem ser clientes, e fazem o possível para não deixá-las entrar. A mensagem da sociedade de consumo foi enviada a todos nós, não apenas para algumas pessoas. O homem mediano comum atual vê, em um dia, mais comerciais do que as pessoas viam durante toda vida cem anos atrás. Eles são inundados por tentações...

Silio Boccanera — Quer possam comprar ou não.
Zygmunt Bauman — Exato. Todo mundo recebe a mesma mensagem. Algumas pessoas podem fazer algo quanto a isso. Lembre que as pessoas que se rebelaram em Londres roubaram coisas, mas também as queimaram. Foi um ato de vingança contra as fortalezas do consumo onde eles não podem entrar. Roubar foi uma coisa, mas não era apenas pegar os objetos que os motivava. Eles queriam se vingar da humilhação de serem consumidores desqualificados em uma sociedade de consumo.

Silio Boccanera — Que pontos em comum — se é que há algum — o senhor vê entre esses movimentos, protestos que ocorreram em Londres, e as ações que têm acontecido em várias capitais européias, na maior parte das vezes lideradas por jovens?
Zygmunt Bauman — Não, é diferente. Em Londres, até agora, houve uma rebelião ligada unicamente ao consumo. Foi um protesto de consumidores imperfeitos contra o consumismo. Não tinha a intenção de acabar com o consumismo, mas de participar da orgia consumista, pelo menos por três noites. É como um parque de diversões, um intervalo daquela realidade escura e sombria. Foi um fenômeno muito peculiar. Você mencionou um fenômeno realmente de massa, muito interessante, que também mostra uma mudança muito importante na nossa sociedade. Houve rebeliões nos subúrbios de toda França, em um dado momento. Há o movimento dos “indignados”, em Madri. Em Atenas, há rebeliões contra os cortes nas despesas e os ataques aos direitos sociais da população impostos pela falência do país. Em Israel, a classe média está saindo às ruas, protestando contra o governo, que emprega todo o dinheiro em gastos militares e não liga para o bem-estar da população. Há os países árabes, que passaram pelo mesmo tipo de movimento. As pessoas saem às ruas, vão a praça pública e se recusam a sair enquanto esses regimes não lhes concederem direitos de cidadania, derrubando o governo e dando espaço para algum tipo de sistema diferente. Que tipo? Não sei. Mas, quando era jovem, a principal pergunta que eu e meus contemporâneos faziam era: “O que deve ser feito? O que devia ser feito? O que fazer para melhorar a sociedade?” Hoje, a principal pergunta não é mais essa. As pessoas, no geral, estão ampla ou vagamente com medo ou ansiosas, mas não tem um modelo de uma sociedade perfeita.

Silio Boccanera — Não há utopia.
Zygmunt Bauman — Isso. Portanto, a principal pergunta hoje não é: “O que fazer?” As pessoas não chegam nem a pensar no que deve ser feito, porque, para chegar a essa pergunta, elas têm que passar por outra pergunta, que é mais difícil de responder: “Quem vai fazê-lo?” Minha hipótese é a de que a verdadeira causa da importância dessa pergunta é o que chamo de divórcio entre o poder e a política. O poder é a capacidade de fazer coisas. E a política é a capacidade de decidir que coisas devem ser feitas. O poder e a política, até 50 anos atrás, eram óbvios para todos. Tanto o poder quanto a política estavam nas mãos do governo. E, se decidíssemos — eu, você e o resto — o que precisava ser feito, aquilo era feito. O Estado tinha a autoridade de decidir e o poder de agir. Mas isso não é mais assim, pois há um divórcio entre o poder e a política, mesmo em países em desenvolvimento e prósperos, como é o Brasil de hoje, por exemplo. É preciso levar em conta a situação mundo afora. Muitos aspectos da nossa vida, que decidem quanto a nossas perspectivas, nossa capacidade de fazer as coisas, nossa possibilidade de melhorar nossas vidas, estão fora do alcance de qualquer instituição política existente.

Silio Boccanera — Eu queria ligar o começo da nossa conversa com o que o senhor acaba de escrever. Temos uma crise financeira, sucessivos programas de austeridade, que tentam equilibrar as finanças. E temos a sociedade de consumo. Com austeridade, será muito difícil dar continuidade aos princípios da sociedade de consumo e, assim, haverá mais frustração, não é?
Zygmunt Bauman — A austeridade foi imposta, e talvez seja uma necessidade. Qual é a alternativa, imprimir mais dinheiro? Isso criaria inflação como nas décadas de 20 e 30. A austeridade é uma necessidade, mas não é a cura. Se há cortes e uma política de austeridade — e há —, a riqueza nacional não será produzida. Quando não se produz riqueza nacional, a depressão aumenta. Isso não é uma cura. Nós podemos, talvez, mitigar parcialmente nossos problemas financeiros, mas isso não significará que o desemprego não irá crescer e o padrão de vida das pessoas não cairá. Portanto, em termos sociais, não em termos financeiros, e pressão irá aumentar.

Silio Boccanera — Nós ainda lidamos com a pressão, como o senhor mencionou, da grande quantidade de comerciais, que querem que compremos novos produtos, que compremos um modelo A, B, C, novos e melhorados, como eles dizem.
Zygmunt Bauman — Sim, mas a ideia do consumismo, do consumo como uma panaceia para todos os problemas, uma fórmula para uma vida boa, bem-sucedida, feliz e próspera é algo muito novo, que surgiu no final do século XIX. Ela é, de certo modo, um acidente histórico. Parece que nós estamos diante de uma escolha muito desastrosa. A escolha terá que ser feita, com disposição, consciência e conhecimento, ou tudo será imposto a nós, porque não haverá outras soluções para o problema. Recentemente, eu comecei a chamar a presente situação de “situação de interregno”. O interregno é um conceito bem antigo, da época de Tito Lívio, um historiador da Roma Antiga, que escreveu a história de Roma em “Ab Urbe Condita”, “desde a fundação da cidade”. O primeiro interregno ocorreu quando o primeiro rei da Roma Antiga, Rômulo, após 38 anos de reinado, morreu. Não está muito claro, pois alguns dizem que ele foi direto para o Paraíso, que ele não morreu. Mas ele desapareceu, após 38 anos. A expectativa de vida naquela época era de 38 anos, o que significa que, no momento em que ele morreu, praticamente não havia ninguém que se lembrasse de como era a vida antes de Rômulo. Em toda parte, todas as prescrições e proscrições vinham de uma só fonte: Rômulo. E, de repente, ele desaparece. Imagine-se nessa situação. O que fazer? Não se sabe o que fazer, de verdade.

Silio Boccanera — Há um período entre reis.
Zygmunt Bauman — Foi algo especialmente dramático. Não foi a mudança rotineira de um rei para o outro, mas o desaparecimento da única fonte de autoridade. Até que o rei seguinte, Numa, fosse indicado, passou-se mais de um ano. E foi um ano de confusão completa. As pessoas se sentiam abandonadas, não sabiam o que fazer, não havia ordem do dia. No momento, nós estamos em um interregno. Um interregno que significa, simplesmente, que a antiga maneira de agir não funciona mais, e novos modos de agir ainda não foram inventados. Esse é o interregno. E é por isso que não quero dar previsões sobre o futuro, pois ele pode tender para qualquer direção.

Silio Boccanera — Essa nova geração tem sido extensivamente exposta, como conversamos antes, a ideia da falta de privacidade, de que a vida das pessoas é exposta, os segredos são expostos, o culto às celebridades está em toda parte. As pessoas chegam até a impor sua intimidade aos outros. Esse é um fenômeno novo.
Zygmunt Bauman — Elas impõem, mas a prática da exposição pública, do “striptease espiritual público”, podemos dizer, já foi internalizada, não é mais imposta. Crianças de oito, 10 anos, passam várias horas por dia na frente do laptop contando tudo sobre elas mesmas a quem quiser ler ou ouvir.

Silio Boccanera — E mesmo para que não quer.
Zygmunt Bauman — Exato. Nem todos podem ser vistos na TV. Se alguém for visto na TV é porque, realmente, é importante. Mas, se não for, pelo menos há a possibilidade de ser visto na tela do computador. Talvez alguém, por acidente, passeie pelo website, pelo blog.

Silio Boccanera — Ou pelo seu Facebook.
Zygmunt Bauman — E escreva, mande um recado. Assim ela se sente realmente membro do mundo, não foi deixada para trás, não foi excluída. Nós estamos dentro com a ajuda da internet, da realidade virtual. Quando desconectados, a vida é cada vez mais deserta, porque a oferta da socialização, da convivência, da união, da amizade, foi assumida pela implementação da internet, por ofertas online. Portanto, essa é outra grande mudança. Mais uma vez, é cedo demais para analisar isso e para fazer alguma previsão certa e confiável sobre o que acontecerá. Acrescente-se a isso a comercialização da moral humana. Nós já nos convertemos ao consumismo obsessivo-compulsivo. Temos que trabalhar duro, já que a fronteira entre a hora do trabalho e a do lazer, do escritório e da família, foi apagada. Assim, as pessoas esquecem seu dever moral para com o filho, a filha, a mulher...

Silio Boccanera — A pessoa está sempre conectada.
Zygmunt Bauman — Ela não pode dedicar tempo a eles e o que faz? Compra presentes caros para compensar a sua ausência. Quanto mais caro o presente, mais profundos devem ser sua responsabilidade moral e seu amor. Juntando tudo isso, vemos sinais de mudanças culturais muito intensas. Eu acho que estamos passando por uma profunda revolução cultural. Mas não me sinto realmente capaz, com conhecimento suficiente para arriscar em um prognóstico sobre que direção isso irá tomar. Como você acertadamente disse, há muitas pressões contraditórias. Por um lado, austeridade; por outro, consumismo. Como conciliar os dois?

sábado, 23 de junho de 2012

Deus, segundo Baruch Spinoza (texto enviado por Pacheco, grande amigo)

Quando perguntado se acreditava em Deus, Einstein respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.

DEUS SEGUNDO SPINOZA
Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filho, não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho? Pára de ter tanto medo de mim. Não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se te fiz, te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deuspode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há
aqui e agora, e o único que precisas. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho: Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que não vou te perguntar se foste comportado ou não. Vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás.
Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti.

Baruch Spinoza.
As sábias palavras são de Baruch Espinoza - nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677, foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. Essas palavras foram escritas no séc. XVII...e continuam atuais.

sexta-feira, 22 de junho de 2012


Enviado por Ricardo Noblat - 
22.6.2012
 | 20h29m
GERAL

Ofensa deve ser retirada de rede social em até 24 horas, decide STJ

Após denúncia, retirada deve ser preventiva para posterior análise. Se não cumprir determinação, provedor pode responder por omissão.
Mariana Oliveira, G1
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que mensagens ofensivas publicadas em rede sociais, como Orkut e Facebook, devem ser retiradas do ar em até 24 horas após a denúncia por parte de algum internauta.
Segundo o tribunal, a retirada é preventiva e deve ser feita até a análise sobre a veracidade da denúncia. Se não retirar a mensagem, o provedor pode "responder solidariamente com o autor direto do dano, em virtude da omissão praticada". A decisão afirma que o provedor poderá ainda adotar "as providências legais cabíveis contra os que abusarem da prerrogativa de denunciar".
A decisão foi tomada na última terça-feira (19) dentro de recurso em ação movida por internauta do Rio de Janeiro que afirmou que o Orkut, mantido pelo Google Brasil, levou dois meses para retirar do ar um perfil falso "que vinha denegrido" a imagem da internauta.
A Justiça do Rio de Janeiro determinou que o Google pagasse uma indenização de R$ 20 mil por danos morais, que foi posteriormente reduzida para R$ 10 mil na segunda instância. O Google recorreu, mas o STJ manteve o valor e estipulou o prazo de 24 horas para retirada de mensagens.
Em nota, a empresa afirmou que falta regramento no país para questões relacionadas à internet. "O Google acredita que ainda há uma a jurisprudência inconsistente no país, mas que o Marco Civil traz uma orientação mais atual para lidar com estas questões. Além disso, é importante ressaltar que não cabe à plataforma tecnológica emitir juízo de valor e praticar a censura na web", afirmou.

Para o debate: será o aquecimento global uma farsa?


Mudanças climáticas: hora de recobrar o bom senso
Exma. Sra.
Dilma Vana Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil
Excelentíssima Senhora Presidente:
Em uma recente reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, a senhora afirmou que a fantasia não tem lugar nas discussões sobre um novo paradigma de crescimento – do qual a humanidade necessita, com urgência, para proporcionar a extensão dos benefícios do conhecimento a todas as sociedades do planeta. Na mesma ocasião, a senhora assinalou que o debate sobre o desenvolvimento sustentado precisa ser pautado pelo direito dos povos ao progresso, com o devido fundamento científico.
Assim sendo, permita-nos complementar tais formulações, destacando o fato de que as discussões sobre o tema central da agenda ambiental, as mudanças climáticas, têm sido pautadas, predominantemente, por motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas. Isto as têm afastado, não apenas dos princípios basilares da prática científica, como também dos interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira. Por isso, apresentamos-lhe as considerações a seguir.
1) Não há evidências físicas da influência humana no clima global:
A despeito de todo o sensacionalismo a respeito, não existe qualquer evidência física observada no mundo real que permita demonstrar que as mudanças climáticas globais, ocorridas desde a revolução industrial do século XVIII, sejam anômalas em relação às ocorridas anteriormente, no passado histórico e geológico – anomalias que, se ocorressem, caracterizariam a influência humana.
Todos os prognósticos que indicam elevações exageradas das temperaturas e dos níveis do mar, nas décadas vindouras, além de outros efeitos negativos atribuídos ao lançamento de compostos de carbono de origem humana (antropogênicos) na atmosfera, baseiam-se em projeções de modelos matemáticos, que constituem apenas simplificações limitadas do sistema climático – e, portanto, não deveriam ser usados para fundamentar políticas públicas e estratégias de longo alcance e com grandes impactos socioeconômicos de âmbito global.
A influência humana no clima restringe-se às cidades e seus entornos, em situações específicas de calmarias, sendo estes efeitos bastante conhecidos, mas sem influência em escala planetária. Para que a ação humana no clima global ficasse demonstrada, seria preciso que, nos últimos dois séculos, estivessem ocorrendo níveis inusitadamente altos de temperaturas e níveis do mar e, principalmente, que as suas taxas de variação (gradientes) fossem superiores às verificadas anteriormente.
O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) registra que, no período 1850-2000, as temperaturas aumentaram 0,74°C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m.
Ora, ao longo do Holoceno, a época geológica correspondente aos últimos 12.000 anos em que a civilização tem existido, houve diversos períodos com temperaturas mais altas que as atuais. No Holoceno Médio, há 5.000-6.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2-3°C superiores às atuais, enquanto os níveis do mar atingiam até 3 metros acima do atual. Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano (1500-1200 a.C.), Romano (séc. VI a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII d.C.), as temperaturas atingiram mais de 1°C acima das atuais.
Quanto às taxas de variação desses indicadores, não se observa qualquer aceleração anormal delas nos últimos dois séculos. Ao contrário, nos últimos 20.000 anos, desde o início do degelo da última glaciação, houve períodos em que as variações de temperaturas e níveis do mar chegaram a ser uma ordem de grandeza mais rápidas que as verificadas desde o século XIX.
Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado Dryas Recente, as temperaturas caíram cerca de 8°C em menos de 50 anos e, ao término dele, voltaram a subir na mesma proporção, em pouco mais de meio século.
Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre 18.000 e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por século, suficiente para impactar visualmente as gerações sucessivas das populações que habitavam as margens continentais. No período entre 14.650 e 14.300 anos atrás, a elevação foi ainda mais rápida, atingindo cerca de 14 metros em apenas 350 anos – equivalente a 4 m por século.
Por conseguinte, as variações observadas no período da industrialização se enquadram, com muita folga, dentro da faixa de oscilações naturais do clima e, portanto, não podem ser atribuídas ao uso dos combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano.
Tais dados representam apenas uma ínfima fração das evidências proporcionadas por, literalmente, milhares de estudos realizados em todos os continentes, por cientistas de dezenas de países, devidamente publicados na literatura científica internacional. Desafortunadamente, é raro que algum destes estudos ganhe repercussão na mídia, quase sempre mais inclinada à promoção de um alarmismo sensacionalista e desorientador.
2) A hipótese “antropogênica” é um desserviço à ciência:
A boa prática científica pressupõe a busca permanente de uma convergência entre hipóteses e evidências. Como a hipótese do aquecimento global antropogênico (AGA) não se fundamenta em evidências físicas observadas, a insistência na sua preservação representa um grande desserviço à ciência e à sua necessária colocação a serviço do progresso da humanidade.
A história registra numerosos exemplos dos efeitos nefastos do atrelamento da ciência a ideologias e outros interesses restritos. Nos países da antiga URSS, as ciências biológicas e agrícolas ainda se ressentem das consequências do atraso de décadas provocado pela sua subordinação aos ditames e à truculência de Trofim D. Lysenko, apoiado pelo ditador Josef Stálin e seus sucessores imediatos, que rejeitava a genética, mesmo diante dos avanços obtidos por cientistas de todo o mundo, inclusive na própria URSS, por considerá-la uma ciência “burguesa e antirrevolucionária”. O empenho na imposição do AGA, sem as devidas evidências, equivale a uma versão atual do “lysenkoísmo”, que tem custado caro à humanidade, em recursos humanos, técnicos e econômicos desperdiçados com um problema inexistente.
Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO2) e outros gases produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas da dinâmica climática, a hipótese do AGA simplifica e distorce um processo extremamente complexo, no qual interagem fatores astrofísicos, atmosféricos, geológicos, geomorfológicos, oceânicos e biológicos, que a ciência apenas começa a entender em sua abrangência.
Um exemplo dos riscos dessa simplificação é a possibilidade real de que o período até a década de 2030 experimente um considerável resfriamento, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um período de baixa atividade solar e de uma fase de resfriamento do oceano Pacífico (Oscilação Decadal do Pacífico, ODP), em um cenário semelhante ao verificado entre 1947-1976. Vale observar que, naquele intervalo, o Brasil experimentou uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou problemas de abastecimento de água e geração elétrica, além de um aumento das geadas fortes, que muito contribuíram para erradicar o café no Paraná. Se tais condições se repetirem, o País poderá ter sérios problemas, inclusive, nas áreas de expansão da fronteira agrícola das regiões Centro-Oeste e Norte e na geração hidrelétrica (particularmente, considerando a proliferação de reservatórios “a fio d’água”, impostos pelas restrições ambientais).
A propósito, o decantado limite de 2°C para a elevação das temperaturas, que, supostamente, não poderia ser superado e tem justificado todas as restrições propostas para os combustíveis fósseis, também não tem qualquer base científica: trata-se de uma criação “política” do físico Hans-Joachim Schellnhuber, assessor científico do governo alemão, como admitido por ele próprio, em uma entrevista à revista Der Spiegel (17/10/2010).
3) O alarmismo climático é contraproducente:
O alarmismo que tem caracterizado as discussões sobre as mudanças climáticas é extremamente prejudicial à atitude correta necessária frente a elas, que deve ser orientada pelo bom senso e pelo conceito de resiliência, em lugar de submeter as sociedades a restrições tecnológicas e econômicas absolutamente desnecessárias.
No caso, resiliência significa a flexibilidade das condições físicas de sobrevivência e funcionamento das sociedades, além da capacidade de resposta às emergências, permitindo-lhes reduzir a sua vulnerabilidade às oscilações climáticas e outros fenômenos naturais potencialmente perigosos. Tais requisitos incluem, por exemplo, a redundância de fontes alimentícias (inclusive a disponibilidade de sementes geneticamente modificadas para todas as condições climáticas), capacidade de armazenamento de alimentos, infraestrutura de transportes, energia e comunicações e outros fatores.
Portanto, o caminho mais racional e eficiente para aumentar a resiliência da humanidade, diante das mudanças climáticas inevitáveis, é a elevação geral dos seus níveis de desenvolvimento e progresso aos patamares permitidos pela ciência e pela tecnologia modernas.
Além disso, o alarmismo desvia as atenções das emergências e prioridades reais. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento básico para mais da metade da população mundial, cujas consequências constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta. Outro é a falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5 bilhão de pessoas, principalmente, na Ásia, África e América Latina.
No Brasil, sem mencionar o déficit de saneamento, grande parte dos recursos que têm sido alocados a programas vinculados às mudanças climáticas, segundo o enfoque da redução das emissões de carbono, teria uma destinação mais útil à sociedade se fossem empregados na correção de deficiências reais, como: a falta de um satélite meteorológico próprio (de que dispõem países como a China e a Índia); a ampliação e melhor distribuição territorial da rede de estações meteorológicas, inferior aos padrões recomendados pela Organização Meteorológica Mundial, para um território com as dimensões do brasileiro; o aumento do número de radares meteorológicos e a sua interligação aos sistemas de defesa civil; a consolidação de uma base nacional de dados climatológicos, agrupando os dados de todas as estações meteorológicas do País, muitos dos quais sequer foram digitalizados.
4) A “descarbonização” da economia é desnecessária e economicamente deletéria:
Uma vez que as emissões antropogênicas de carbono não provocam impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da “descarbonização” da economia, ou “economia de baixo carbono”, se torna desnecessária e contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para um problema inexistente. A insistência na sua preservação, por força da inércia do status quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima, mas tenderá a aprofundar os seus numerosos impactos negativos.
O principal deles é o encarecimento desnecessário das tarifas de energia e de uma série de atividades econômicas, em razão de: a) os pesados subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa eficiência, como a eólica e solar – ademais, inaptas para a geração elétrica de base (e já em retração na União Europeia, que investiu fortemente nelas); b) a imposição de cotas e taxas vinculadas às emissões de carbono, como fizeram a Austrália, sob grande rejeição popular, e a União Europeia, para viabilizar o seu mercado de créditos de carbono; c) a imposição de medidas de captura e sequestro de carbono (CCS) a várias atividades.
Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e os participantes dos intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento econômico real e se sustentam tão somente em uma demanda artificial criada sobre uma necessidade inexistente. Vale acrescentar que tais mercados têm se prestado a toda sorte de atividades fraudulentas, inclusive, no Brasil, onde autoridades federais investigam contratos de carbono ilegais envolvendo tribos indígenas, na Amazônia, e a criação irregular de áreas de proteção ambiental para tais finalidades escusas, no estado de São Paulo.
5) É preciso uma guinada para o futuro:
Pela primeira vez na história, a humanidade detém um acervo de conhecimentos e recursos físicos, técnicos e humanos, para prover a virtual totalidade das necessidades materiais de uma população ainda maior que a atual. Esta perspectiva viabiliza a possibilidade de se universalizar – de uma forma inteiramente sustentável – os níveis gerais de bem-estar usufruídos pelos países mais avançados, em termos de infraestrutura de água, saneamento, energia, transportes, comunicações, serviços de saúde e educação e outras conquistas da vida civilizada moderna. A despeito dos falaciosos argumentos contrários a tal perspectiva, os principais obstáculos à sua concretização, em menos de duas gerações, são mentais e políticos, e não físicos e ambientais.
Para tanto, o alarmismo ambientalista, em geral, e climático, em particular, terá que ser apeado do seu atual pedestal de privilégios imerecidos e substituído por uma estratégia que privilegie os princípios científicos, o bem comum e o bom senso.
A conferência Rio+20 poderá ser uma oportuna plataforma para essa necessária reorientação.
Kenitiro Suguio
Geólogo, Doutor em Geologia
Professor Emérito do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP)
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências
 
Luiz Carlos Baldicero Molion
Físico, Doutor em Meteorologia e Pós-doutor em Hidrologia de Florestas
Pesquisador Sênior (aposentado) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
 
Fernando de Mello Gomide
Físico, Professor Titular (aposentado) do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Co-autor do livro Philosophy of Science: Brief History (Amazon Books, 2010, com Marcelo Samuel Berman)
 
José Bueno Conti
Geógrafo, Doutor em Geografia Física e Livre-docente em Climatologia
Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)
Autor do livro Clima e Meio Ambiente (Atual, 2011)
 
José Carlos Parente de Oliveira
Físico, Doutor em Física e Pós-doutor em Física da Atmosfera
Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
 
Francisco Arthur Silva Vecchia
Engenheiro de Produção, Mestre em Arquitetura e Doutor em Geografia
Professor Associado do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos (USP)
Diretor do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA)
 
Ricardo Augusto Felicio
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)
 
Antonio Jaschke Machado
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)
 
João Wagner Alencar Castro
Geólogo, Mestre em Sedimentologia e Doutor em Geomorfologia
Professor Adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ
 
Helena Polivanov
Geóloga, Mestra em Geologia de Engenharia e Doutora em Geologia de Engenharia e Ambiental
Professora Associada do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
 
Gustavo Macedo de Mello Baptista
Geógrafo, Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos e Doutor em Geologia
Professor Adjunto do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB)
Autor do livro Aquecimento Global: ciência ou religião? (Hinterlândia, 2009)
 
Paulo Cesar Soares
Geólogo, Doutor em Ciências e Livre-docente em Estratigrafia
Professor Titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
 
Gildo Magalhães dos Santos Filho
Engenheiro Eletrônico, Doutor em História Social e Livre-docente em História da Ciência e Tecnologia
Professor Associado do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP)
 
Paulo Cesar Martins Pereira de Azevedo Branco
Geólogo, Pesquisador em Geociências (B-Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM
Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências
 
Daniela de Souza Onça
Geógrafa, Mestra e Doutora em Climatologia
Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
 
Marcos José de Oliveira
Engenheiro Ambiental, Mestre em Engenharia Ambiental e Climatologia Aplicada
Doutorando em Geociências Aplicadas na Universidade de Brasília (UnB)
 
Geraldo Luís Saraiva Lino
Geólogo, coeditor do sítio Alerta em Rede
Autor do livro A fraude do aquecimento global: como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009)
 
Maria Angélica Barreto Ramos
Geóloga, Pesquisadora em Geociências (Senior) do Serviço Geológico d Brasil – CPRM
Mestre em Geociências – Opção Geoquímica Ambiental e Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências

Fonte: http://agfdag.wordpress.com/

‘Pessoa não tinha imaginação’, diz biógrafo brasileiro (revista veja)


José Paulo Cavalcanti

26/03/2011
 às 8:38 \ EntrevistaLivros da Semanapoesia

‘Pessoa não tinha imaginação’, diz biógrafo brasileiro


O primeiro poema que o advogado pernambucano José Paulo Cavalcanti leu de Fernando Pessoa foi 'Tabacaria', em 1966
Tem lançamento oficial na próxima terça-feira Fernando Pessoa: uma (Quase) Biografia (Record, 736 páginas, 79,90 reais), livro em que o advogado pernambucano José Paulo Cavalcanti trata sem cerimônias de um clássico das letras portuguesas. Fernando Pessoa (1888-1935) é mostrado como um beberrão, um homossexual enrustido e, ainda, um escritor de rala criatividade. “Pessoa não tinha imaginação”, diz Cavalcanti, que descobriu 55 novos heterônimos do poeta – além dos 72 já catalogados pela especialista Teresa Rita Lopes – entre conhecidos seus e em jornais e textos escritos por ele, entre outras fontes. “Boa parte deles vêm de gente que existia mesmo, de admirações literárias ou lugares caros a Pessoa”, conta.
A tese de um Fernando Pessoa não muito criativo já nasce polêmica, em se considerando que é rotina na literatura escritores retrabalharem estímulos reais – observados ou vividos por eles – em suas obras. O próprio Cavalcanti parece ter consciência disso, pois prevê reações pouco amistosas. “Será normal que apareça algum Cristo”, afirma. Mas tem confiança no resultado do trabalho, que levou consumiu dez anos e contou com apoio de um historiador e um jornalista, em Portugal.
Durante os dez anos dedicados ao livro, o quarto de caráter biográfico sobre o poeta, o advogado reuniu documentos e peças do acervo de Fernando Pessoa, algumas cedidas por parentes – inclui-se aí uma sobrinha de Ofélia Queirós, a grande paixão do poeta. Da pesquisa, brotou, além das já citadas, a conclusão de que o escritor, apesar de afeito à bebida, não morreu de cirrose, como se pensava.
Às vésperas do lançamento nacional do livro, o (quase) biógrafo de Fernando Pessoa fala a VEJA.
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O senhor descobriu que Fernando Pessoa tinha um total de 127 heterônimos. Em que fontes o poeta se
 pautou para criar seus outros “eus”?De fato, até bem pouco, o número consensual de heterônimos era aquele dado por Teresa Rita Lopes: 72. No livro, mostro que o poeta usou, pela vida, 202 nomes, dos quais 127 seriam heterônimos, que agora são descritos com suas biografias possíveis. Apesar do número enorme de heterônimos, no final da vida, Pessoa decidiu abandonar todos para reunir o melhor do que escreveu num livro de 300, 400 páginas em seu próprio nome. Apenas lhe faltou tempo, para isso, pois logo lhe veio a “mater dolorosa da angústia dos oprimidos” (morte).
Como foram descobertos os novos heterônimos?
O livro começou em um momento mágico, quando percebi que Pessoa não tinha imaginação. Diferentemente do que se pensa, ele preferia usar o que tinha à mão – sua vida, amigos, admirações literárias, mitologia. Fui descobrindo os heterônimos à medida que apareciam. E iam aparecendo por toda parte, em livros de sua biblioteca, nos pequenos jornais que escrevia, nos textos que analisei. Estavam ali, às ordens, esperando, até que alguma mão os resgatasse desse limbo. É como quem pela vida escreve um diário secreto, nem tão secreto assim, que, depois de ter a chave, tudo fica claro. Em Tabacaria, por exemplo, ele diz, “Se eu casasse com a filha da minha lavadeira, talvez fosse feliz”. Uma frase como essa bem poderia ser metáfora, claro. Mas, conhecendo seu estilo, já sabia que havia uma lavadeira, havia uma filha dessa lavadeira, e terá havido um romance entre eles. Quando fala em um Esteves conversando com o dono da Tabacaria, o “Esteves sem metafísica”, claro que havia mesmo um Esteves. Era um vizinho da família, que a pedido dela, por ironia, se dirigiu à Conservatória do Registro Civil para declarar o óbito do poeta.

Para entender melhor a questão: como se define um heterônimo?
Em um primeiro momento, heterônimos são, ou deveriam ser, aqueles que escrevem com estilo autônomo em relação ao do autor real. Não só isso. E que escreveriam sobre temas específicos, diferentes dos usualmente tratados pelo autor. Aos poucos, entre especialistas de Pessoa, esse conceito foi se alargando, até chegar ao ponto atual, em que Pessoa escreve como se fosse outro. Claro que sem demonstrar, nem de longe, a autonomia que tinha aquela primeira classificação. Mantido o primeiro critério, bem visto, heterônimos seriam apenas três – Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Se fôssemos estender um pouco mais, para considerar também aqueles que deixaram obra vasta, teríamos que incorporar mais cinco, a saber: Search, Mora, Baldaya, Teive e Bernardo Soares (admitindo que seja este o mesmo que Vicente Guedes, com o qual seriam então mais seis). No total, portanto, oito heterônimos (ou nove, como já visto). Mas a tese consensual é de que todos os nomes usados por Pessoa – para assinar traduções, prefácios, charadas, serviços diversos – constituem heterônimos. Inclusive o próprio Pessoa.

Então, os heterônimos não são todos poetas?
A maioria dos heterônimos assina textos, mas para outros foi destinada alguma função específica: escrever livros que não de poesia, entre eles um de luta livre (que seria a capoeira de Angola), de sucesso em Bahia e arredores, traduzir obras de ocultismo, por exemplo, ou prefaciar obras – do próprio Pessoa e de terceiros. Alguns foram companheiros de viagem, que de certa maneira viveram com ele. Outros assinaram livros de sua estante. Ou fizeram charadas em jornais. É claro que, no fundo, era sempre Pessoa escrevendo. Álvaro de Campos, por exemplo, só escreveu poemas homossexuais até fins de 1919, quando Pessoa conheceu Ophelia Queiroz (que namorou o poeta em dois momentos). E, no fim da vida, vemos Campos casado, ao lado de uma esposa.

Que espaço é dedicado à sexualidade do poeta? No livro, o tema ocupa um capítulo inteiro. Em resumo, Pessoa tinha uma natureza homossexual, mas nunca foi além disso (nunca concretizou sua opção). Não há um depoimento de amigo, um texto, uma foto em posição suspeita.
Pessoa bebia bastante. Com que evidência o senhor diz que ele não morreu de cirrose?
Sim, ele bebia muito, muito além do que era razoável. A arte de beber, que no livro ganha todo um capítulo, lhe foi ensinada pelo tio Henrique Rosa. Quanto à morte, convidei um grupo grande de professores doutores para discutir as causas de sua morte. E restou consensual não ter sido por cirrose. Apesar de Pessoa ter bebido sempre além da conta, não foi cirrose, com certeza. Ele não apresentou nenhum dos sintomas clássicos das fases finais da doença – icterícia, ascite, distúrbios neuropsíquicos, hemorragia digestiva alta, coma –, sem contar que cirrose não dá a dor abdominal aguda que ele teve, às vésperas da morte. A causa mortis provável terá sido pancreatite. O livro dedica um capítulo aos estudos que levam a essa conclusão.

Que outras revelações o livro traz, e de que modo essas descobertas mudam a visão que se tem de Pessoa?
No livro, busco saber quem é o homem por trás da obra. Sua obra já está bem estudada, faltava saber como era ele. E, pouco a pouco, das sombras, emerge um homem vaidoso e discreto. O livro fala de seus hábitos – suas rotinas e manias, como o sentar sempre sobre as mãos, a cabeça levemente pendida para a esquerda, o falar baixo – e também de um livro de poesias que escreveu e vendeu a um russo, que o publicou. Fala também do último encontro de Ophelia Queiroz, implausível amor, com seu corpo, no Hospital São Luís dos Franceses. Um estudo mais amplo sobre sua sexualidade, suas angústias, a arte de beber.


Suas páginas já irritaram alguém?
Ainda não. Mas penso que será normal que apareça mesmo algum Cristo. Mas eu contratei um historiador e um jornalista, em Portugal, para revisar cada página. A geografia de Lisboa, a história de Portugal, nomes, tudo foi conferido. Há dois tipos de pessoas, os felizes e os desesperados. Os felizes, homens sensatos que são, marcam data para acabar e acabam suas tarefas. E seus livros. Os desesperados, enquanto sentem que pode ficar melhor, não terminam nunca. Infelizmente, para mim, pertenço a este segundo grupo. Há suor e sangue, no livro, que escrevi em pelo menos quatro horas por dia, durante quase oito anos, indo em média quatro vezes por ano a Lisboa, conversando com todo mundo, inclusive anônimos que o conheceram. Escrevi um livro que ainda não existia, mas que eu queria ler. Sem nenhuma ideia de que seja aquele que os outros quererão mesmo ler. Espero que sim. Ardentemente.

Maria Carolina Maia