sábado, 21 de maio de 2011

Revista Época, de 20/05/2011

Você sabe ouvir críticas?
Por Anna Carolina Lementy  

Meu pior dia no trabalho não foi aquele em que virei a madrugada fazendo um extenso relatório ou escrevendo uma reportagem. Também não foi o dia em que tive de suportar um chefe violento (e não estou exagerando quando digo violento). Os dias verdadeiramente ruins, que me cutucam com frequência, foram aqueles em que recebi críticas arrasadoras.
Foi algo como a morte ouvir “seu texto é fraco”. Fiquei vermelha e a ponto de chorar (pode chorar no trabalho?). O pensamento foi catastrófico: “Ei, eu vivo das palavras! Se não souber usá-las direito, o que será da minha carreira? Devo mudar de profissão agora e evitar a eterna vergonha de ser medíocre? Meu deus, eu serei demitida!”. Voltei para o planeta Terra e quis me justificar. Por fim, silenciei. Hoje, sou grata pela análise verdadeira de um chefe cuidadoso. Sou uma megera comigo mesma na hora de escrever. E isso é bom.
Trouxe essas histórias à tona por causa de uma reportagem da revista Psychology Today, chamada “Como receber feedback”. Todo mundo sabe onde dói quando levamos uma bronca. Mas sabemos por qual razão isso acontece? A autora explica que o que machuca no feedback negativo é menos o conteúdo aparente da mensagem e mais a ameaça de exclusão e ostracismo que a acompanha. É a sensação de não se encaixar no grupo, perder a conexão com nossos pares, com nosso emprego ou com atividades de que gostamos (imagine o poder que uma crítica negativa tem sobre alguém que decidiu aprender a dançar, por exemplo).
Assim, as críticas são mal recebidas porque ameaçam nossa identidade, ou seja, colocam em jogo o que aprendemos para sobreviver ao longo da vida. Elas confrontam nossas crenças, valores, hábitos e até as qualidades que acreditávamos ter.
E não adianta falar baixo ou apontar os defeitos com palavras delicadas. Ficaremos ofendidos de todo jeito. “Ser defensivo é uma resposta natural ao feedback negativo. Não espere heroísmo de você mesmo ou de qualquer outra pessoa nessa situação. Se você é quem recebe a crítica, respire fundo. Provavelmente vai machucar. Tente não falar demais”, diz a reportagem.
E continua: “Apesar do mantra do bem-estar pregado por manuais de autoajuda, muito do nosso amadurecimento e desenvolvimento depende de interações e experiências que não são boas. O aprendizado está relacionado, em grande parte, ao reconhecimento e correção de nossos erros”.
Agora, se é você o portador de más notícias, preste atenção às dicas abaixo:
8 regras para o feedback eficaz
1)      Sempre conduza o problema com questões. Isso permite que a pessoa que recebe a crítica se sinta responsável pelo problema, em vez de excluída;
2)      Só critique se pedirem. Feedback negativo não solicitado só provoca irritação e será descontado;
3)      Tenha certeza de que você tem autoridade para criticar. Críticas que vêm de pessoas não qualificadas incitam resistência;
4)      Saiba distinguir quando uma demanda por mudança reflete apenas suas necessidades ou é uma crítica válida;
5)      Nunca dê feedback quando está nervosa (o). A raiva aliena o outro. Expressar desapontamento é mais produtivo;
6)      Saiba com quem você está falando. Narcisistas levam qualquer crítica como ataque pessoal; o inseguro perde a autoestima;
7)      Conheça a si mesmo também. Se você é relativamente insensível a críticas, contenha a tendência de pesar a mão com os outros;
8)      Espere uma reação defensiva como primeira resposta. A mudança virá depois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário