sábado, 7 de maio de 2011

Da autodefesa à autodestruição
Por Nadielson Barbosa da França
Bataille estava certo: é preciso liberdade para fracassar.  Parar com essa mania absurda de se achar ou (pior) tentar parecer perfeito. Com isso,  permite-se um processo maior de reflexão e de melhora. Não serão necessárias as desculpas vazias. Não serão necessárias as acusações infundadas. Sem culpados ou sentimentos de culpa.
O que parece ser instintivo, na verdade, é uma armadilha do superego. A frustração por não conseguir "ser-o-que-já-se-imagina-que-é" traz as escusas. Parece existir, é certo, como bem disse Raul, essa necessidade de convencer as paredes do quarto para dormir tranquilo. O problema é que sabemos (no fundo do peito) que não é nada daquilo. Daí surge a dor, o martírio, sentimentos que cedo ou tarde serão diluídos na vereda da vida. Busca-se, contudo, postergá-los com fantasias.
Assim, criam-se histórias (muito) bem contadas para justificar esse ou aquele ato. A quimera é de tal forma que, como num passe de mágica, todos os acontecimentos são recriados. Aquilo lhe parece realmente verdade, até porque, como disse o poeta espanhol, "tudo é segundo a cor do cristal com que se olha". Para evitar acusações, busca-se defender a si mesmo, valendo-se de tudo: até uma relativa perda de memória. O fato não será lembrado como deveras aconteceu, mas da forma mais conveniente, como se quer ver.
O trágico, porém, é que até se pode escapar desse ou daquele olhar, desse ou daquele tribunal, mas nunca do nosso pior carrasco: nós. Acabamos, aí, descambando para a autoflagelação.
Nesse sentido, vem à memória um caso interessante contado por Jung. Um jovem tinha um relacionamento com uma professora mais velha. Era óbvio que ele não gostava dela. Sua aproximação era com o único intuito de ver seus desideratos financeiros satisfeitos.
Ainda assim, querendo "resolver" essa sua situação peculiar, ele fez uma autoanálise com base em Freud e levou aquelas considerações sobre si para Jung analisar. Era um perfeito tratado de psicanálise. O moço estava corretíssimo acerca dos pontos abordados, de modo que Jung afirmara não haver qualquer alteração a ser feita.
Diante disso, entretanto, o rapaz saíra revoltado. Não levara as suas anotações para ouvir o que já sabia. Resolvera nunca mais procurar Jung. Ato contínuo, este grande psicanalista concluiu: o lugar desse gigolô é na cadeia. E, embora a polícia não tenha feito o seu papel, o inconsciente o fez.

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