sábado, 28 de maio de 2011

Enviado por Pedro Lago, do Corujão da Poesia - 
27.5.2011
 | 23h30m
POEMA DA NOITE

Maio no Leblon - Carlos Drummond de Andrade

Entre os desmaios de maio, 
azula o céu carioca 
e o sol recolhe seu raio.

Macio maio! Bem vindo 
aos que, de pupila doente, 
refugiavam-se, no poente, 
dos revérberos da praia.

Um frio azul se derrama 
e colhe de rama em rama 
toda cantiga de pássaro. 
É doce, ficar na cama.

O níquel das bicicletas 
- ante a franja turmalina - 
se desenrola nas retas 
sem fustigar as retinas.

Luz de seda! Nos vestidos 
anda um prenúncio de lãs 
e de agasalhos transidos. 
Inverno, prepara as cãs.

Vou lagartear-me na areia 
de onde emigram, neste maio, 
as gentes de formas feias, 
e descobrir nela côncavo 
dos pés de Lúcia Sampaio.

Mês de colóquio e surpresa, 
em que, sereno, o olhar gaio 
se infiltra na natureza 
e se perde, achando-se... Amai-o.


Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) - Considerado um dos maiores poetas brasileiros, autor de uma vasta obra poética, que também inclui contos e crônicas. Morou no Rio de Janeiro a maior parte de sua vida, onde, foi funcionário público. Foi traduzidos para vários idiomas e é uma referência fundamental na poesia brasileira.

Um comentário: