Enviado por Pedro Lago, do Corujão da Poesia -
27.5.2011
| 23h30m
POEMA DA NOITE
Maio no Leblon - Carlos Drummond de Andrade
Entre os desmaios de maio,
azula o céu carioca
e o sol recolhe seu raio.
Macio maio! Bem vindo
aos que, de pupila doente,
refugiavam-se, no poente,
dos revérberos da praia.
Um frio azul se derrama
e colhe de rama em rama
toda cantiga de pássaro.
É doce, ficar na cama.
O níquel das bicicletas
- ante a franja turmalina -
se desenrola nas retas
sem fustigar as retinas.
Luz de seda! Nos vestidos
anda um prenúncio de lãs
e de agasalhos transidos.
Inverno, prepara as cãs.
Vou lagartear-me na areia
de onde emigram, neste maio,
as gentes de formas feias,
e descobrir nela côncavo
dos pés de Lúcia Sampaio.
Mês de colóquio e surpresa,
em que, sereno, o olhar gaio
se infiltra na natureza
e se perde, achando-se... Amai-o.
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) - Considerado um dos maiores poetas brasileiros, autor de uma vasta obra poética, que também inclui contos e crônicas. Morou no Rio de Janeiro a maior parte de sua vida, onde, foi funcionário público. Foi traduzidos para vários idiomas e é uma referência fundamental na poesia brasileira.
Drhumanizemos sempre.
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