quarta-feira, 27 de julho de 2011

Blog do Noblat


OBRA-PRIMA DO DIA (SEMANA PAUL CÉZANNE)

Pintura: Ambroise Vollard (1889)

Paul Cézanne aos poucos vai se tornando independente das influências que recebeu logo que foi para Paris, quando conviveu e estudou com os Impressionistas. Começa a se diferenciar desse movimento ao escolher um caminho bastante original: “decidi fazer dos Impressionistas uma arte de museu”.
O que queria dizer com isso? Simplesmente que iria se valer das pesquisas mais recentes na arte da pintura e conciliá-las com a arte dos mestres do passado, entre os quais incluía os Impressionistas.
Numa carta hoje guardada no célebre Courtauld Institute of Art, em Londres, Cézanne diz ao amigo e pupilo Emile Bernard: “Trate a natureza em termos de cilindro, esfera e cone”. Essa declaração, que ficou célebre, pode ser considerada a certidão de nascimento da Arte Moderna.
Os retratos pintados por Paul Cézanne quase podem ser considerados naturezas- mortas: ele exigia que seus modelos ficassem absolutamente imóveis, por horas a fio, o que deve ser verdadeira tortura. Posar para ele era quase um pesadelo. Zangava-se facilmente e pintava com uma lentidão de irritar um santo. Talvez seja por isso que seus retratados sempre pareçam cansados e deprimidos.
Ambroise Vollard, seu amigo, e grande marchand, contou que posou 115 vezes, “imóvel como uma maçã”, para que Cézanne pintasse seu retrato. Ficou impressionado quando Cézanne, um belo dia, interrompeu o retrato, com apenas dois pequenos pontos ainda em branco na tela. Não encontrava a cor certa, foi o que disse. Para susto do amigo, disse que quando encontrasse, recomeçariam...
Obcecado mais com a forma do que com o conteúdo, o tema era sempre menos importante do que a pintura em si. Queria que a forma e as técnicas usadas fossem mais fortes do que a imagem transmitida. Isto é, a dinâmica do assunto não podia se mais importante do que o ato de criação do artista. Quanto mais ele se concentrava nesse objetivo, menos suas telas agradavam aos compradores.
“Cézanne é o pai de todos nós”, disse Pablo Picasso. Há inúmeras telas de Picasso que se inspiram em Cézanne, como o “Retrato de Daniel Henry Kahnweiler”, 1910 (acervo do Art Institute of Chicago), onde o uso das cores atenuadas, da paleta contida e das pinceladas oblíquas de Cézanne, é uma nítida influência.
Cézanne desbravou o caminho para, entre outros, Braque, Mondrian, Matisse, Bonnard. Ele é considerado o elo de ligação entre Renoir e Jackson Pollock.

Acervo Musée des Beaux Arts de la Ville de Paris, Petit Palais 

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